“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”

              Angela Davis          

O 25 de julho não é apenas uma data de celebração, é uma data em que as mulheres negras se fortalecem em suas diversas lutas e apontam suas demandas. Para marcar esse dia convidamos uma super parceira do movimento aids, Elenice Carvalho, mulher negra, ativista e super comprometida com as causas sociais. Ela nos relata um pouco de sua experiência à frente de uma Organização Não Governamental que atende às pessoas que vivem com HIV/AIDS na cidade de Araraquara, interior de São Paulo. Acompanhem!

O que é ser mulher negra, ativista e ligada a uma Organização da Sociedade Civil (OSC) que atende pessoas que vivem com HIV/AIDS (PVHA)? 

Para muitas pessoas estar ligada a uma OSC/AIDS parece ser um fardo pesado, mas para essa negra é desafiador, prazeroso e me agrega muito em conhecimento. Sempre que ouço a descabida pergunta “O que você faz no meio de PVHA? Você também tem AIDS?”, vejo os olhares de desconfiança e questionamentos não ditos com a resposta negativa. Estar junto das PVHA, lutar por direitos humanos e acesso à saúde é um aprendizado em tempo real. Todo dia surgem novos desafios, é preciso ter jogo de cintura para se adaptar, lidar e solucionar cada problema  que se apresenta no cotidiano. 

É curioso ser apontada como uma mulher forte, destemida e ousada. Devo confessar que às vezes tenho medo mas, tudo o que fazemos na vida é uma grande responsabilidade, e acredito que o diferencial é justamente seguir em frente mesmo com medo. 

Vejo muito isso nas fortes, destemidas e ousadas mulheres que sofrem com o  triplo preconceito por serem  mulheres, negras e com HIV/AIDS.

Enfrentar o estigma, preconceito e discriminação seja pela cor da pele ou pela sorologia positiva ao HIV, não é tarefa fácil no Brasil. Muitas mulheres negras ainda precisam lidar com o racismo e a falta de acesso à saúde e à educação. Ainda, vivem as mais diversas vulnerabilidades como: violência institucional; maior possibilidade de ser vítima de homicídio e, até um maior número de ocupação em postos de trabalho mais precarizados.

Lutar pela causa da PVHA, pela garantia dos direitos humanos, pelo acesso a uma saúde universal e digna, por um SUS igualitário e forte têm sido o meu desafio, a mola propulsora que me faz seguir confiante.  

Vivemos numa sociedade fechada para o tema HIV/AIDS, gênero, direitos humanos, direitos sexuais e direitos reprodutivos. Sinto que minha função é levar a essas pessoas o que aprendo todos os dias no trabalho voluntário. Essa bagagem que acumulei ao longo dos anos precisa ser compartilhada por meio da disseminação da informação clara e objetiva buscando sempre a efetiva inclusão e aceitação da sociedade como um todo. Quebrando o preconceito com informação e conhecimento.

Somos sim negras, ousadas e destemidas e exigimos sermos também respeitadas e valorizadas. Não cabe mais sermos submissas e forjadas em nossa existência. 

Elenice A. Carvalho, 55 anos, solteira

Formada em Serviço Social

Mulher negra, ganhora do Prêmio Dra. Rita de Cassia pelo Dia da Mulher Negra Latina e Caribenha na cidade de Araraquara.

Vice presente no Grupo de Apoio e Solidariedade aos Portadores do Vírus HIV/AIDS de Araraquara