Vulnerabilidade da mulher

As vulnerabilidades das Mulheres Vivendo com HIV/AIDS (MVHA), são multifatoriais, sendo tanto no campo biológico como no campo estrutural. No primeiro, o vírus e o uso prolongado dos ARV causam efeitos que afetam a qualidade de vida dessas mulheres, como alterações nos níveis de colesterol e  triglicerídeos, que causam cardiopatias. Também há distúrbios hormonais que provocam a menopausa precoce, osteoporose e diabetes. As alterações neurocognitivas estão dentre os agravos vivenciados por essas mulheres. Um efeito adverso que afeta fortemente a saúde e a vida delas é a lipodistrofia, que gera uma distribuição desordenada de gordura atingindo braços, pernas, bumbum, rosto, pescoço, abdômen, costas e seios, provocando baixa auto-estima e o não reconhecimento e aceitação da própria fisionomia em uma sociedade que cultua corpos perfeitos bombardeados pela mídia.

No campo estrutural, vale ressaltar que as MVHA, são brancas, não brancas, indígenas; jovens, adultas e idosas; heterossexuais, lésbicas ou bissexuais; da cidade, do campo das águas e das florestas; de várias profissões e religiões, letradas, analfabetas, com deficiências, ricas ou pobres, dentre tantas outras. Dessa forma, nessa diversidade existem diversos obstáculos que se apresentam levando em conta os contextos vivenciados, assim como os locais onde vivem e trabalham. Estes fatores extrapolam o agente viral, como as desigualdades de gênero, de raça, de classe social, violações dos direitos sexuais e reprodutivos, o estigma e discriminação e outros determinantes que potencializam a suscetibilidade ao adoecimento. 

As vulnerabilidades existentes estão em três dimensões interconectadas como:

  • Dimensão individual: refere-se ao conhecimento de comportamentos que a deixa suscetível ao adoecimento e a sua capacidade de controlá-los.
  • Dimensão Programática: refere-se ao pode de acessar serviços de qualidade na área de HIV/Aids, ou seja, não depende da pessoa e sim de políticas públicas adequadas.
  • Dimensão social: talvez esta seja a que mais atinge as MVHA, são os fatores socioeconômicos e culturais por demais arraigados nas relações cotidianas e na sociedade.

Para visibilizar esses contextos, o MNCP atua de diversas maneiras, seja através

de palestras, rodas de conversas, oficinas educativas e denúncias, ou em espaços de representação em ações de advocacy e incidência política, na tentativa de buscar estratégias de minimizar as vulnerabilidades existentes.

São muitos e diversos os desafios e no contexto social-econômico e político atual, em que muitas conquistas estão ameaçadas. Lutamos incessantemente contra todos os retrocessos, contra todo tipo de discriminação e violações dos Direitos Humanos e dos Direitos Sexuais e Reprodutivos das MVHA. 

Reivindicamos maiores investimentos em pesquisas que auxiliem a diminuir os efeitos do vírus e dos antirretrovirais, ações para o enfrentamento do sexismo, racismo, estigma e discriminação, assim como a melhoria da qualidade  e do acesso aos serviços de saúde e assistência.

 

Foto: Thercles Silva/Flickr

Violência contra a Mulher

A violência contra a mulher, tornou-se um dos mais graves problemas sociais no país, constituindo-se em uma das principais formas de violação dos direitos humanos, atingindo as mulheres em seus direitos à liberdade, à saúde, à integridade física e à vida. 

Muito além da agressão física, é preciso que as mulheres saibam identificar as situações de violências que não são tão explícitas.

Leia mais sobre as formas de violência na imagem ao lado. A imagem foi produzida pelo Ministério Público de Santa Catarina.

Segundo dados do DataFolha e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2018, 536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora; 21,8% (12,5 milhões) foram vítimas de ofensa verbal, como insulto, humilhação ou xingamento; 8,9% (4,6 milhões) foram tocadas ou agredidas fisicamente por motivos sexuais, o que representa 9 por minuto; 3,9% (1,7 milhão) foram ameaçadas com faca ou arma de fogo; 3,6% (1,6 milhão) sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento, ou seja,  3 por minuto; Jovens de 16 a 24 anos (42,6%) e negras (28,45%) são as principais vítimas de violência.

A violência sofrida pelas mulheres vivendo com HIV/AIDS

Nos quinze anos do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas, mulheres vivendo com HIV/AIDS relataram diversas situações de violências vividos que ocorreram dentro e/ou fora de seus lares: por familiares, vizinhos, amigos e profissionais de saúde.

Os relatos vão desde a exposição à discriminação, constrangimentos, ridicularização devido a lipodistrofia que algumas mulheres apresentam como efeito colateral causado pelo uso prolongado dos antirretrovirais, relação sexual sob coerção, exploração financeira ou sexual, exposição a outras infecções sexualmente transmissíveis (porque o parceiro se nega a usar um preservativo), maus tratos em serviços de saúde – com exposição da sorologia, descaso no atendimento, desrespeito aos direitos,  xingamentos, ameaças e muitas outras situações após a revelação do diagnóstico positivo para o HIV.  

Essas violências produzem efeitos negativos na qualidade de vida das mulheres e conseqüências  devastadoras, muitas vezes irreparáveis na saúde emocional, impactos graves na saúde física, sexual e reprodutiva das mulheres vivendo com HIV/AIDS. Muitas mulheres relatam que não procuraram ajuda por medo, por vergonha, por se sentirem sozinhas, por não ter certeza da caracterização do ato como violência ou mesmo por se sentirem culpadas pela agressão que sofreram.

É preciso reagir e a palavra de ordem é empoderamento.  As mulheres vivendo com HIV/AIDS precisam buscar o fortalecimento para reagirem. A sociedade precisa reconhecer que a violação dos direitos humanos mata, o machismo mata e a violência mata. Profissionais de saúde, especialmente os que atuam em serviços especializados em HIV/AIDS, precisam compreender o contexto patriarcal em que vivem as mulheres e abordar questões relativas à discriminação. Serviços de saúde devem oferecer um cuidado de forma integral e sensível à presença de violências na vida das mulheres que atendem.

Além disso, enfrentar o estigma, a discriminação, a violência dentro de suas próprias famílias, comunidades, locais de trabalho e serviços de saúde só é possível com conhecimento e ajuda. Toda mulher pode ser capaz de tomar decisões sobre sua própria saúde e vida.  Toda mulher deve ser respeitada, independente de classe social, raça e etnia, religião e cultura. Todo tipo de violência contra a mulher não pode ser naturalizada, precisa ser definitivamente barrada e, essa luta não deve ser apenas das mulheres, mas sim de toda a sociedade.  

Se você quer denunciar uma situação de violência, ligue 180.

Este número é da Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, um serviço público gratuito e confidencial (preserva o anonimato), oferecido pela Secretaria Nacional de Políticas.