A gente piscou e o ano está chegando ao fim. 

Isso nos faz respirar aliviadas, primeiro porque estamos, literalmente, respirando. Depois, porque o sentimento de “dever cumprido” nos toma. É claro que eventos ruins podem ter acontecido, mas sabemos que as possibilidades não se acabam. E isso quer dizer que, até aqui, vai tudo bem. 

O tempo está passando e, juntas, vamos deixando nossas marcas pelo caminho. Recalculamos a rota e os rumos da jornada, reiniciamos os projetos esquecidos, recuperamos os prejuízos ocorridos, reformulamos as decisões mal pensadas mas não desistimos porque temos apetite pelo ativismo e pela vida. Continuamos sonhando, planejando, construindo, plantando, incidindo e sorrindo porque até aqui, tudo bem. 

 

Confira o balanço que cinco Cidadãs Posithivas fazem do ano de 2023 e as perspectivas para o ano que se inicia. 

Ana Paula de Oliveira Brun, 48 anos – Alvorada/RS

O ano de 2023 marcou uma reviravolta positiva na minha vida, sendo verdadeiramente o melhor ano da minha vida até aqui. No final de 2022, tomei a decisão de compartilhar abertamente minha sorologia nas redes sociais. Embora muitas pessoas já soubessem sobre minha condição, a exposição pública trouxe uma transformação significativa. Conheci pessoas incríveis, aprendi lições valiosas e troquei experiências enriquecedoras com aqueles que vivem e convivem com o HIV ou aids há tempos e com os recém-diagnosticados.

Ao iniciar essa jornada de compartilhamento através de vídeos no Instagram e de me envolver com grupos e movimentos, destaco o MNCP como um ponto crucial. Foi lá que percebi que, ao buscar parceria e companhia, encontrei apoio para enfrentar dúvidas, suprir necessidades e lutar por direitos. O MNCP se tornou um refúgio onde a solidariedade e a compreensão se transformaram em instrumentos poderosos para enfrentar diversos desafios.

Enquanto antecipo o ano de 2024, vislumbro um período ainda mais gratificante. Com o conhecimento adquirido, almejo compartilhar minha história, dialogar com pessoas de todas as idades e desmistificar a ideia de que viver com HIV é insuperável. Quero mostrar que é possível ter uma vida plena, construir relações saudáveis, ter filhos, trabalhar e desfrutar de uma vida íntima sem medo de transmissão. Desejo contribuir para diminuir estereótipos enraizados desde os anos 80, promovendo uma compreensão mais inclusiva e empática sobre o HIV.

Ane Aveline (Aninha do PACS), 50 anos – Osasco/SP

2023 para mim foi ano de mudanças. Chegou até mim a informação de que uma mulher vivendo com HIV/AIDS estava  tendo seus direitos furtados e, de dentro de mim, veio uma força latente me cobrando fatura de tantos anos sendo fortalecida por outras mulheres. Senti que aquela era a hora, aquela era a situação e o  tempo que eu precisava para tomar coragem, sair do meu casulo, assumir minha visibilidade e fazer por outras mulheres, tudo que foi feito por mim. 

Isso foi libertador!  Soltei um peso enorme que carregava e saí das sombras de  muitos anos que  só me fazia adoecer cada vez mais. Consegui me posicionar firmemente como membro do movimento em minha cidade, consegui contar para minha família, que já desconfiavam, e o melhor de tudo, consegui fortalecer a mulher que estava tendo seus direitos  violados e influenciá- la a retomar a adesão ao tratamento. Só isso, valeu o ano!

 

Para 2024 espero que o MNCP ganhe mais notoriedade, que juntamente aos demais movimentos AIDS consigam fazer articulações políticas para que nosso Cid se torne PRIORIDADE, já que os desmontes de vários serviços a pessoas vivendo com HIV/AIDS estão postos. 

Espero que o governo federal invista mais recursos nas pesquisas para cura do HIV e tenhamos recursos para retomada de ações de formação continuada e prevenção de dezembro a dezembro,em diversas instituições, principalmente nas comunidades periféricas e em vulnerabilidade social. 

Desejo que seja criada uma rede de garantia de direitos por diversas secretarias municipais para atenderem as demandas das mulheres que vivem com HIV/AIDS e que nosso DIREITO ao sigilo seja efetivamente respeitado. Mais informações nos canais de TV e em todas as redes de comunicação sobre o significado do ” I=0″. 

Enfim, desejo que todas as mulheres que vivem com HIV/AIDS estejam juntas, livres e vivas lutando pela Cura Já!

Marcilaine Pereira, 40 anos -Minas Gerais/BH

Definitivamente 2023 não foi como eu esperava, foi  um ano triste, decepcionante para mim que amo minha profissão, que amo cuidar. 

Temos um costume de sempre fazer uma oração na virada pedindo realizações para o próximo ano, mas dessa vez o que eu pedi no meu coração não aconteceu e confesso que fiquei um pouco frustrada. 

Fui desligada do trabalho por causa da minha sorologia, fiz mais de cinco entrevistas e não passei em nenhuma, não consegui o emprego que eu esperava. Passei por dificuldades financeiras devido ao desemprego, chorei muitas vezes na terapia decepcionada com as pessoas e o mundo. Em alguns momentos achei que tudo estava acabado. 

Mas hoje, fazendo uma reflexão, chego a conclusão que não posso ser injusta com o tempo. Vivi momentos maravilhosos também e vou pensar que eles superaram os momentos difíceis. 

Me agarrei no ativismo, cheguei mais perto e me juntei ao MNCP. Em uma carta que escrevi para meu inquilino HIV, pude ver que ele foi um dos meus menores problemas. Então decidi não me silenciar, abrindo minha sorologia que estava silenciada há 22 anos. Pela primeira vez participei de um encontro nacional do MNCP e foi um dos meus melhores momentos desse ano. Conheci pessoas, fiz novas amizades, me senti parte por não precisar mais me silenciar. Me indicaram para representante da região sudeste, e foi uma surpresa! Me soltei neste encontro de tal forma que mostrei o que muitas pessoas ainda não conheciam sobre mim. E agora recentemente estou fazendo plantões no CTI neonatal, só havia trabalhado com adulto até então, e mais uma vez me surpreendi pois na verdade sou enfermeira de pessoas. 

Escrevendo esse texto hoje posso ver que meus momentos de descoberta me trouxeram a esperança novamente que havia perdido. E hoje mais forte, mais viva, mais aberta, posso pensar que não irei mais colocar minhas expectativas nos outros e sim em mim. Não tenho  o poder de controlar as pessoas mas, a mim mesma sim, pois hoje me conheço melhor que antes. Hoje consigo ver melhor a minha missão aqui na terra, e estou no caminho certo. Tenho comigo pessoas maravilhosas e posso dizer que me conheço melhor com as dificuldades que vivi durante o ano de 2023! Que venha 2024! Estou preparada para o que vier!

Jane Damascena, 61 anos – São Gonçalo do Amaranten/RN 

O ano de 2023 foi intenso e cheio de desafios. Foi um tempo de muita luta por uma boa saúde. Também foi um ano de buscas, tentativas, decepções e medos, porém, tive também algumas conquistas. Espero que 2024 seja de grandes vitórias e realizações não apenas no âmbito individual mas no coletivo. Que haja paz e amor na humanidade, com a prevalência da igualdade e união. Para as pessoas que vivem com HIV e AIDS, desejo que possam alcançar a CURA com maior brevidade. E às mulheres militantes desta causa, só posso parabenizar a todas pela determinação e empenho. CURA JÁ!

Maria Orleanda Gomes Alves, 46 anos – Fortaleza/CE 

O ano de 2023 não foi fácil para ninguém, principalmente para as mulheres que vivem com HIV/AIDS, entre elas as trans, negras e as com crianças vivendo e expostas. Sabemos das dificuldades e desafios que passam, em especial aquelas que vivem na pobreza, estão com crianças e precisam dividir o leite com outros filhos. 

Enfrentamos desafios junto ao governo do Estado do Ceará quando o mesmo se fecha para não sentar, ouvir e discutir as pautas e demandas das mulheres que  vivem com HIV/AIDS. Precisamos falar da eliminação da transmissão vertical do HIV e da Sífilis. É inadmissível que passados mais de quarenta anos da epidemia no Brasil ainda temos crianças nascendo com HIV, desenvolvendo e morrendo com AIDS. Cadê o compromisso dos gestores governamentais sobre as políticas públicas de enfrentamento do HIV/AIDS e outras ISTs? Cadê as campanhas de prevenção para HIV/Aids e IST no Estado do Ceará?

 

As mudanças que estão sendo realizadas pelo Governo Federal nos faz acreditar em um 2024 melhor. Muitas coisas já mudaram, as desigualdades sociais e a vulnerabilidade das pessoas pobres estão sendo colocadas em pauta. Só a volta do Departamento de Aids já é uma vitória. Os gestores do Ceará deveriam seguir o exemplo. Enquanto isso o MNCP+CEARÁ  segue na luta por uma saúde integral, igualitária e equânime. 

Chegamos ao fim de 2023 com a certeza que fizemos o nosso melhor mas sabemos que é preciso ampliar o investimento para saúde das mulheres e pessoas com HIV/AIDS, para pesquisas e, para que num futuro próximo todas as gestantes que sejam I=0 possam amamentar suas crianças e, melhor ainda, que possamos celebrar a tão sonhada cura do HIV/AIDS. #CURAJÁ

Secretaria de Comunicação