Descrita como uma síndrome reumatológica de etiologia desconhecida, a fibromialgia afeta a vida de inúmeras pessoas, especialmente mulheres. No Brasil, acredita-se que ela está presente em até 2,5% da população geral. Desta porcentagem, a grande maioria são mulheres entre 35 e 44 anos. 

Com um diagnóstico essencialmente clínico, o Colégio Americano de Reumatologia (ACR) elaborou critérios de classificação aceitos pela comunidade científica em 1990. Dentre estes critérios, estava a determinação de 18 pontos dolorosos distribuídos pelo corpo. Com o passar dos anos, percebeu-se a dificuldade de uso destes critérios na prática clínica, além da percepção pelos profissionais da saúde de outros sintomas importantes tais como fadiga, distúrbios do sono e rigidez matinal. Também não são raros relatos de ansiedade, distúrbios intestinais e alterações cognitivas, como falta de memória ou concentração. Tudo isto levou o ACR a elaborar novos critérios de classificação em 2010, que ainda estão sendo avaliados pela comunidade científica.

Enquanto as pesquisas associando o HIV-AIDS e as doenças reumáticas como artrites reativas e Síndrome de Reiter são bem sucedidas, pesquisar sobre a associação entre mulheres vivendo com HIV e fibromialgia pode ser deveras frustrante. A literatura científica é bem escassa e quase nula quando falamos sobre tratamento em fisioterapia. Solicitamos ajuda à bacharel de Biblioteconomia Michelle Oliveira, que ampliou a busca em várias bases de dados e o resultado não foi muito diferente, ou seja, um campo inexplorado que necessita de novas pesquisas. O que se encontra é apenas uma estimativa de prevalência de 11% entre estes pacientes e que pode estar relacionada à ocorrência de depressão. Então, apesar de encontrarmos altos índices de ocorrências na nossa prática clínica, não temos estudos científicos que nos esclareçam mais sobre esta relação. 

Apesar desta escassez de estudos científicos específicos, o tratamento de mulheres vivendo com HIV não é diferente de outros pacientes com diagnóstico de fibromialgia. Não são raros os atendimentos de mulheres com suas vidas profissionais, familiares e sociais gravemente afetadas pelos sintomas intensos e crônicos causados pela fibromialgia – dores intensas e frequentes por todo o corpo, alterações no sono, fadiga, depressão ou ansiedade, e até mesmo alterações nos hábitos intestinais, entre outros. Não sendo conhecido cientificamente nenhum medicamento ou recurso terapêutico que traga a cura definitiva, estas pessoas se sentem perdidas e frustradas com sua condição clínica.

Mas o que é importante saber ao receber este diagnóstico? Como não se sentir frustrada com a sensação de que não há saída para sintomas tão fortes que alteram tanto a capacidade de mulheres em plena vida ativa? 

Se este é o seu caso, as informações a seguir podem te ajudar:

1 – Ao receber o diagnóstico, tente manter a calma e se cercar de uma boa equipe multiprofissional. Porém, o maior protagonista do tratamento é você. Uma excelente equipe não terá sucesso se você não se engajar no tratamento;

2 – Entre os casos de sucesso no tratamento estão aquelas pacientes que realizaram mudanças no seu estilo de vida, incluindo alimentação, higiene do sono e atividade física;

3 – Siga as orientações dos profissionais de saúde que te acompanham. Somente com uma avaliação individual, eles conseguirão determinar quais as melhores condutas dentro de suas respectivas áreas – médicos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, entre outros;

Com relação ao tratamento fisioterapêutico, a área que atuo, as condutas também estão diretamente relacionadas à avaliação prévia, porém vale ressaltar alguns pontos que podem te ajudar no seu dia a dia.

Algo frequente entre as pacientes com fibromialgia é o alto grau de cinesiofobia. Cinesiofobia é o medo de se movimentar e está ligada ao medo de aumentar o nível de dor e à falsa crença de que quem tem dor deve permanecer em repouso. Hoje em dia já se sabe que o repouso, que parece ser um herói num primeiro momento, acaba se tornando um vilão, podendo acarretar perdas funcionais graves no indivíduo.

Estudos científicos corroboram a nossa prática clínica e apontam que meios passivos, como massagem e correntes analgésicas, apesar de trazerem alívio, não possuem um efeito significativo a longo prazo. Os melhores resultados aparecem quando utilizamos terapias ativas, de acordo com a capacidade funcional de cada indivíduo. Para você entender melhor, o passivo é um tratamento que eu fico parada enquanto recebo e ativo é um tratamento que eu tenho participação ativa, como na execução de exercícios. 

Porém, saber de tudo isto, não diminui o medo de executar tarefas. É fundamental que você entenda que não é um tratamento fácil e nem de resultados rápidos. É a paciência e persistência do paciente associadas a um bom programa de tratamento que diminui a cinesiofobia e traz alívio efetivo das dores e sintomas.

Uma ótima opção entre os recursos ativos utilizados pela Fisioterapia são aqueles utilizados no ambiente da piscina aquecida, ou seja, a Fisioterapia Aquática. Utilizando os princípios físicos da água associados ao ambiente aquecido, a Fisioterapia Aquática é uma especialidade reconhecida pelo COFFITO – Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional desde 2014 e possui inúmeras técnicas com eficácia comprovada no tratamento de pacientes com fibromialgia, como a hidrocinesioterapia. E lembre-se: a Fisioterapia Aquática deve sempre ser realizada em piscina aquecida, geralmente entre 32 e 36 graus Celsius. 

Nesta especialidade podemos optar pelo atendimento individual ou em grupo terapêutico. O atendimento em grupo na Fisioterapia Aquática possui excelente adesão das pacientes de fibromialgia porque, além de se beneficiarem dos recursos hídricos e térmicos, eles também podem compartilhar suas experiências e dificuldades com outros pacientes. Em estudo publicado recentemente, janeiro de 2022, Marques e colaboradores observaram melhora da dor e da fadiga geral em mulheres com diagnóstico de fibromialgia que foram submetidas a um tratamento de 16 semanas de Fisioterapia Aquática.

Porém, seja qual for a linha de tratamento que você estabelecer junto ao seu Fisioterapeuta é imprescindível que, ao receber alta, você continue realizando atividades físicas de intensidade moderada de 2 a 3 vezes por semana. Uma dica: escolha algo que você goste de fazer e se ajuste a esta atividade com o auxílio de um Educador Físico. O prazer ao realizar a atividade diminui as chances de autossabotagem – eu raramente agendo compromisso no horário das minhas aulas de dança, minha segunda paixão depois da Fisioterapia. Olha aí uma excelente opção de atividade física: a Dança é uma atividade com aspectos aeróbios e de coordenação motora, além de ser lúdica e instrumento de interação social.

Para finalizar, a fibromialgia realmente ainda não tem cura conhecida, mas é perfeitamente possível ter uma vida ativa e funcional, em todos os seus aspectos. Lembre-se, o protagonista da sua vida é você. Conte conosco, Profissionais da Área da Saúde, para ser seu coadjuvante nesta e em outras lutas.

Elisângela da Silva Oliveira

Fisioterapeuta graduada na Universidade Metodista de Piracicaba – UNIMEP (2007)

Aprimoramento em Fisioterapia Desportiva pela UNIMEP (2009)

Pós-graduada em Fisioterapia Aquática pela Universidade da Cidade de São Paulo – UNICID (2013)

Fisioterapeuta atuando no SUS desde 2011

Coordenadora da Central de Fisioterapia Municipal de Piracicaba – SP

Coordenadora do Conselho Municipal de Proteção, Direitos e Desenvolvimento da Pessoa com Deficiência de Piracicaba – SP 

Aluna de Danças Latinas e Africanas

Quer saber um pouco mais sobre o assunto? Segue algumas Referências Bibliográficas:

HELFENSTEIN JUNIOR, Milton; GOLDENFUM, Marco Aurélio; SIENA, César Augusto Fávaro. Fibromialgia: aspectos clínicos e ocupacionais. Revista da Associação Médica Brasileira, [s.l.], v. 58, n. 3, p. 358-365, maio 2012. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/s0104-42302012000300018. Acesso em: 04 maio 2022.

 

GOUVÊA, Tammy Negreiros; MEJIA, Dayana Priscila Maia. A Atuação Fisioterapêutica na Fibromialgia. 12 f. Monografia (Especialização) – Curso de Fisioterapia em Reabilitação na Ortopedia e Traumatologia Com Ênfase em Terapia Manual, Faculdade Ávila, Goiânia.

 

MARQUES, Leonora Nascimento de Sousa et al. Quais efeitos da fisioterapia aquática com exercícios resistidos na dor, fadiga, capacidade funcional e força muscular em mulheres com fibromialgia? Brazilian Journal Of Development, Curitiba, v. 8, n. 1, p. 3529-3548, jan. 2022. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/42822. Acesso em: 04 maio 2022.

 

SIQUEIRA-BATISTA, Rodrigo et al. Manifestações Reumáticas da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS). Revista Brasileira de Reumatologia, [s.l.], v. 44, n. 5, p. 339-346, set/out. 2004. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0482-50042004000500005. Acesso em: 04 maio 2022.

 

VALADARES, Bárbara Aparecida Teófilo et alHIDROCINESIOTERAPIA NO TRATAMENTO DE MULHERES COM FIBROMIALGIA. 13 f. TCC (Graduação) – Curso de Fisioterapia, Centro Universitário Una, Belo Horizonte.

ZANARDINI, Marcos Kobren; ZANARDINI, Lucas Kobren; ZANARDINI, Francisco Ernesto. HIV NO INTERESSE DA REUMATOLOGIA. The Brazilian Journal Of Infetious Diseases, [s.l.], v. 25, p. 101288, jan. 2021. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.bjid.2020.101288. Acesso em: 04 maio 2022.