Fabiana Oliveira e Jenice Pizão

Bom dia à Deputada Erika Kokay, ao Deputado Alexandre Padilha, que está online, parceiros da Frente Parlamentar Mista de Enfrentamento às IST, ao HIV/AIDS e às Hepatites Virais que há anos nos apoia, à equipe da gestão do DCCI [Departamento de Doenças de Condições Crônicas e IST] e do UNAIDS Brasil [Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS], aos representantes dos movimentos sociais presentes e online e às demais pessoas presentes nesta homenagem pelo Dia Mundial de Luta contra a epidemia de AIDS.

Sou Jenice Pizão, do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas e sou uma MVHA [mulher vivendo com HIV e AIDS] há 31 anos.

Receber o diagnóstico positivo para o HIV foi muito impactante há 31 anos. E o pior, continua sendo nos dias atuais, pois o estigma, o preconceito e a discriminação trazem o medo, o desespero e vai em direção oposta à prevenção e ao tratamento das PVHA [pessoa vivendo com HIV ou AIDS].

Mesmo tendo acesso aos ARV [antirretrovirais] através do SUS, nos defrontamos com inúmeras dificuldades e desafios no âmbito pessoal, social e institucional, AINDA HOJE, quando chegamos aos 40 anos de epidemia de AIDS no Brasil. Isso nos põe em alerta.

Somos mais de 100 mil mulheres vivendo com HIV/AIDS no Brasil, representamos 30,6%, de 2007 a 2020 no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde.

Somos mulheres plurais, jovens, idosas, urbanas, ribeirinhas, da floresta, do campo… somos brancas, pretas e pardas, cis, trans, lésbicas, com nossas demandas específicas.

Somos mulheres vivendo cotidianamente com o acúmulo de funções, sofrendo com o machismo estrutural, com a homofobia, com a desigualdade de gênero, com a violência doméstica, com dificuldades de acesso aos serviços de saúde, além das violações aos nossos direitos sexuais e aos nossos direitos reprodutivos.

Se não bastassem estes fatores que nos vulnerabilizam, enfrentamos hoje a ameaça de um governo irresponsável que nos vê como despesa, reforçando o estigma e a discriminação em relação ao viver com AIDS. Estamos vendo outras iniciativas deste governo, entre elas o encerramento das redes sociais do DCCI, impedindo o acesso às informações seguras.

É importante salientar que a AIDS e a sexualidade se tornaram assunto proibido nas escolas dificultando a prevenção à IST e facilitando, assim, uma gestação não planejada, entre meninas e jovens.

Desapareceram as campanhas adequadas de prevenção, reduzindo as informações seguras de prevenção e contribuindo para a invisibilidade do tema AIDS.

Antes tínhamos um Programa de IST, AIDS e Hepatites Virais considerado referência mundial na luta contra a epidemia. Hoje, este “Programa-referência”, sofreu um “achatamento”, tendo que associar-se a outras patologias, mesmo que a gestão tente fazer uma limonada com o limão que sobrou.

Enfrentamos os retrocessos do sub financiamento do SUS e a carência de políticas públicas de saúde e educação. 

Enfim, não há uma exclusividade nas ações para o HIV/AIDS e a resposta à AIDS não é vista com prioridade. Assim, atividades como essa são imprescindíveis para dar à AIDS a visibilidade necessária.

Necessitamos urgentemente de políticas públicas que garantam acesso à saúde, educação, trabalho digno e justiça social para PVHA, sem estigma nem discriminação.

Precisamos proteger os direitos humanos, apoiar as pesquisas científicas e garantir um SUS fortalecido.

Queremos ver nossos filhos crescerem sem o estigma da AIDS.

Queremos a cura, já!

Publicado originalmente em Saúde Pulsando (saudepulsando.com.br)

Fotos
Jenice Pizão por Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados