No Brasil o primeiro caso de COVID-19 foi confirmado em 26.02.2020, tratava-se de um homem de 61 anos, com histórico de viagem para Itália. A partir dessa primeira confirmação, novos casos começaram a surgir de forma rápida e em cerca de um mês a maioria dos Estados brasilei­ros já registravam casos, inclusive com várias mortes. Em 11.03.2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que o mundo estava diante de uma pandemia do novo coronavírus, ou seja, a doença já estava disseminada por diversos continentes com transmissão sustentada entre as pessoas.

 À partir daí inicia-se uma nova realidade, um “novo normal” onde as pessoas são estimuladas a mudarem suas rotinas, permanecerem em suas residências e adotarem rígidas medidas de prevenção. Os recursos de enfrentamento da pandemia, aliados ao aumento no número de infectados e nas altas taxas de mortalidade, passam a ser insistentemente divulgadas pelos meios de comunicação gerando medo, insegurança e sofrimento às pessoas, principalmente àquelas com comorbidades ou  consideradas “grupo de risco”.     

 Diante de tantas incertezas, todas as rotinas do atendimento em saúde foram modificadas com o objetivo de adaptar o ambiente à nova realidade. Assim, o atendimento psicológico de forma não presencial, que antes só ocorria em situações especiais, passou a apresentar vantagens pela possibilidade de oferecer suporte psicológico rápido e seguro. Através da Resolução 04/2020, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), normatizou essa forma de atendimento reafirmando a necessidade de garantir o sigilo e segurança aos pacientes. 

 Neste “novo normal” o enfrentamento da pandemia e a necessidade de distanciamento social têm exigido das pessoas, principalmente das incluídas nos “grupos de risco” e dos profissionais de saúde, uma adequação a novos hábitos e valores. Dessa forma, estamos constantemente submetidos a situações de repercussão física e psicoemocional que levam ao desenvolvimento de quadros de ansiedade generalizada, alterações de humor ou exacerbação de sintomas preexistentes, como: agravo de doenças crônicas, medos e preocupações, aumento no consumo de álcool e de outras drogas, dificuldades para dormir ou para controlar a alimentação e insegurança em relação ao seu futuro. Manifestações de sofrimento psíquico, como conduta suicida, transtorno de estresse pós-traumático ou reações de raiva e agressividade também são observadas.

 O impacto na saúde mental, observado em outros países, durante a fase mais crítica do distanciamento social provocado pela COVID-19, demonstra a relevância na priorização de serviços de atenção psicossocial, baseados em evidências, no manejo do sofrimento psíquico e na prevenção de novos agravos (Duan e Zhu, 2020).

 Em tempos de pandemia, garantir atendimento psicológico e acolhimento de qualidade aos pacientes que apresentam comorbidades e a seus familiares são atitudes de extrema importância, que ajudam no processo psicoterápico, trazendo uma relação de confiança e respeito entre pacientes e profissionais.      

Neci Sena Ferreira

Psicóloga da Secretaria Municipal de Saúde de Palmas-TO

Atuando no Núcleo de Assistência Henfil (SAE e CTA da cidade de Palmas-TO)

Mestre em Psicologia Clínica (PUCCAMP) e Doutora em Ciências da Saúde (UnB)

Bibliografia

 Ciência e Saúde. Ministério da Saúde 2020 – confirma primeiro caso da doença.

 Conselho Federal de Psicologia – Resolução do exercício profissional nº 4, de 26 de março de 2020.

 Duan, L; Zhu, G. Psychological interventions for people affected by the COVID-19 epidemic. The Lancet Psychiatry, v. 7, n.4, p.300-302, 2020.

 WHO (2020, Março 11). WHO Director-General’s opening remarks at the media briefing on COVID-19-11 March 2020. Geneva, Switzerland