Os filhos podem ser biológicos, adotivos, postiços, tardios, planejados… Seja como for, a maternidade possibilita vivências únicas.
Para aquelas mulheres que sonham serem mães desde criança, a noticia pode vir com alegria e emoção, mas para outras, que nunca se imaginaram nesse papel, a descoberta da gravidez pode vir acompanhada por medo e preocupações. De qualquer maneira, todos sesses sentimentos enchem o coração de uma mãe. Num mundo cada vez mais complexo e exigente com as mulheres, ser mãe será sempre uma missão de amor e desafios.
Nance Ferreira da Silva – Olinda/PE
Mãe de duas filhas
Aos vinte anos de idade tive minha primeira filha Alice (20 anos). Era bem jovem. Naquele período, parei com os estudos, mas a maternidade era um sonho. Então, me senti muito feliz.
Dois anos depois tornei-me positiva para o HIV. Na segunda gestação, já tendo conhecimento de minha sorologia, me preparei, fiz todo acompanhamento médico e tornei-me mãe da Ana Luisa (10 anos). Ser mãe é o que dá sentido à minha vida. Se eu não fosse mãe eu não seria a pessoa que sou hoje. Tento ser a melhor amiga das minhas filhas, ser divertida mas também cobro o que é necessário ser cobrado. Não abro mão de estar perto e cuidar sempre.
Sou uma mulher paciente e sempre soube esperar. Quando decidi ser mãe, após o HIV, ouvi de um médico que eu não poderia pôr em risco a vida da criança. Procurei outro médico. Este, tinha uma visão diferente, compreendeu meu desejo, me ajudou e minha filha nasceu.
Aprendi que sem luta nada vem fácil nessa vida, precisamos crer e tudo pode se tornar possível.
Hoje eu e minhas filhas temos um bom relacionamento. Tudo elas me falam e estamos sempre juntas. Somos muito ligadas.
Meu coração se enche de felicidade ao vê-las bem, saudáveis, crescendo e sabendo fazer boas escolhas na vida.
Aliás, ensinar os filhos sobre a vida, talvez seja o maior desafio das mães em tempos tão difíceis. Espero que elas sejam sempre pessoas do bem, estudem sejam profissionais e na vida lutem por dias melhores.
Minha mensagem para as mães é que não desistam de lutar por seus ideais e sonhos e tenham sempre a esperança de um mundo melhor.
Maria Emília Gomes Ferreira – Manacapuru/AM
Mãe de 5 filhos
Sou mãe desde os meus quinze anos.
Eu não optei por ser mãe, fui sorteada por Deus no primeiro namoro e sem nenhuma experiência, devido a cultura da minha família que não falava sobre sexo com os filhos. Na época era falta de respeito falar sobre isso na frente de crianças. Não se podia falar sobre menstruação de uma mulher – não se podia comentar com ninguém que estava “naqueles dias”.
Quando conheci meu primeiro namorado, apaixonada e boba do jeito que eu era, me entreguei e engravidei. Tive uma linda menina pesando cinco quilos.
Hoje, ser mãe é uma grande dádiva. Deus faz as coisas muito certas. Meus filhos estão todos criados, tenho netos e netas. Apesar de hoje não ter a minha mãezinha, porque Deus a levou, ser mãe é um papel muito importante na vida de uma mulher e meus filhos para mim são um grande tesouro
Procuro ser uma mãe divertida, gosto de dançar, de brincar com meus filhos. Sou uma adoradora da natureza e prezo por fazer tudo o que tenho direito. Respeito os direitos das pessoas pois, tenho caráter, índole, mas, não mecha com meus filhos que eu viro uma onça.
Tenho minhas responsabilidades e, na minha vida pessoal, gosto muito de estar aonde tem alegria. Não abro mão dos meus filhos por nada. Sempre os criei sozinha.
Hoje meus filhos me ajudam a ter forças para viver. Já estive numa UTI, em coma por vinte e oito dias. Ao sair de lá, meu pedido para Deus era que me desse forças para me levantar daquele leito porque eu ainda tinha uma missão a cumprir – terminar de criar minha filha menor, que na época tinha apenas seis anos de idade. Então, Deus ouviu minhas orações e de minha mãe. Consegui sair do coma e hoje valorizo tudo, até o cantar de um passarinho. Meus filhos me ensinaram e me ensinam que a vida boa e, eu os ensino que um grande homem e uma grande mulher tem que ter Deus primeiramente em tudo o que fizer e depois, caráter, boa índole e humildade acima de tudo. Ensino que é preciso saber tratar as pessoas, assim como gostariam de ser tratados, independente dos problemas que tiverem, devem ser gentis.
Meus filhos sempre me apoiam em tudo que quero fazer. Sabem da minha sorologia, me conhecem tão bem que, quando estou estressada quero sair para dançar, assim fico boazinha, e eles apoiam. Nossa relação é muito boa.
Quando estamos todos juntos, me sinto muito feliz. As festinhas em família é uma alegria. Todos brincam e se respeitam. Adoro ouvi-los dizer “a mamãe não gosta de briga” ou “a mamãe não pode se estressar”. É um cuidado todo especial.
Para mim, o mais difícil é manter a saúde em dia. Ter qualidade de vida, mas todo dia ter que tomar um monte de medicamento para se manter viva, para superar todos os desafios. Trabalho para mim é uma terapia. Hoje sou aposentada, optei por morar no interior, buscando por uma qualidade de vida melhor. Resolvi colocar um pequeno comércio onde conheço muitas pessoas. Todos os dias vejo pessoas diferentes e, ainda tenho um cargo dentro da associação da comunidade onde moro. Como mulher politizada, empoderada e articulada, a comunidade me confiou o cargo de vice-presidente da comunidade. Então, é desafiador ser mãe vivendo com HIV/AIDS e, ainda cuidar dos problemas de nossa comunidade ribeirinha. Em meio aos compromissos, eu desejo para meus filhos, muita felicidade. Quero vê-los sempre unidos como irmãos, como família, independente de eu estar ou não presente. Espero que sejam sempre, como eu os ensinei, a serem humildes, ajudem o próximo, sempre que puderem e, que tenham muita saúde para conquistarem seus espaços
Penso que ser mãe não é só quando optamos, mas quando Deus permite. Na minha vida foi assim. Com 32 anos e meu filho caçula, ainda com treze anos, conheci uma pessoa e achei que era o grande amor da minha vida. Convivi com ele durante três anos, mantendo relação sexual com camisinha, porque não queria engravidar. Achava que estava segura com o grande amor da minha vida e aconteceu o que eu temia, uma gravidez. Mas foi uma coisa muito boa ter um filho de um homem que eu amava demais. Aos nove meses de gravidez, recebi a visita de uma assistente social que pediu que eu a acompanhasse até o médico. Ele queria me ver. Era um obstetra infectologista, que me deu um resultado positivo para o HIV e, ainda disse que eu tinha que fazer uma cesárea urgente pois, ele queria tentar salvar a minha vida e da minha bebê. Não tinha certeza se eu escaparia, mas, fui com fé que sairia dessa. O médico me perguntou se eu queria que ele falasse para o pai da minha filha. Eu disse que eu falaria. Queria, naquele momento perguntar porque ele fez isso comigo. Antes de o conhecer, era doadora de sangue. Minha filha nasceu, dois anos se passaram. O último exame dela foi feito e, para minha alegria, deu negativo. Hoje minha filha é mãe de uma linda menina que se chama Danielle e, para mim isso é muito maravilhoso. Um dia eu estava na UTI, sem imaginar que ainda veria minha neta nascer.
Hoje vivo todos os momentos da minha vida como se fossem o último. Faço o que gosto, adoro estar com pessoas que gostam de ser felizes.
Ser mãe é a coisa mais linda do mundo!
E as mulheres que tiverem o desejo de terem um filho, tenham. Lá na frente verão que fizeram uma coisa boa para si mesmas. Poder gerar em seu útero, dar a vida a um ser humano, sentir nove meses em seu ventre é tudo de bom.
Nesse mês de maio se comemora o mês das mães, mas mãe é o ano todo. Filhos, valorizem sua mãe. Mães deem mais atenção para seus filhos, conversem sobre sexo seguro com eles. Passe a eles suas experiências e tudo o que a vida lhe ensinou.
Rosaria Piriz Rodriguez – Salvador/BA
Mãe de cinco filhos
Cheguei ao Brasil com três filhas e hoje tenho na família quarenta e quatro pessoas: meus cinco filhos, dezesseis netos, onze bisnetos e seus(uas) respectivos(as) esposos(as).
Nasci em Montevideo/Uruguai e, quando cheguei ao Brasil, em Salvador/Ba, me apaixonei por um menino de três meses que pesava 1,300kg. Me recordo da médica dizendo que ele não sobreviveria, mas mesmo assim o adotei com todo o meu amor. Hoje aquele menino que todos diziam que iria morrer tem trinta e dois anos. Por tudo isso, por tudo o que já passei, penso que ser mãe é muito inspirador.
Em 1973 fui mãe de minha primeira filha. A gravidez, para mim, foi uma forma de sair de casa. Sempre fui uma mãe responsável, amorosa e cuidadora, mas também muito exigente e, sempre procurei ser amiga dos meus filhos.
Ao longo da vida, meus filhos, cada um à sua maneira, me ensinaram a ter dignidade, a manter a fé e a esperança diante das circunstâncias. Mantemos uma relação de amor e respeito e, isso me faz feliz.
Acredito que os desafios da vida nos fortalecem e, desejo que meus filhos tenham o mesmo privilegio que eu tive de vê-los tornarem-se adultos, seguirem suas vidas, formarem suas famílias, ter nos braços os netos e seus bisnetos.
Que mantenham a fé em Deus, a esperança por oportunidades e, que acima de tudo, mantenham respeito por tudo e por todos.
Para mim, o dia das mães, é especial, não apenas para brindarmos a alegria de sermos mães, mas sobretudo de sermos mulheres. Brindo a todas as mulheres mães, que segundo o IBGE, no Brasil somos 11,5 milhões, mas, em especial, as mulheres de minha família, que são muitas.
Brindo as 5,5 milhões de mulheres mães que criam seus filhos sozinhas.
Dia das mães é dia de refletirmos a jornada de cada mulher, em especial as mulheres negras e periféricas que, historicamente deixam de cuidar de seus filhos para cuidar dos filhos de outras mulheres, para sua sobrevivência e, também de seus filhos. Que possamos celebrar essa força mesmo sabendo que a vida poderia ser menos exaustiva. Que possamos todos refletir o papel que os homens tem desempenhado na paternidade, nas atribuições da casa, no cuidado com os filhos, etc… Que possamos todos refletir sobre equidade entre homens e mulheres.
Vivo com HIV a vinte e dois anos. Ao longo dessa jornada, tenho me encontrado com muitas outras mulheres que me ajudaram a ser mais forte, empoderada, acolheram a mim e a minha família. Algumas soropositivas e outras não, mas todas elas me ensinaram que devemos sempre “pescar” e não ficar apenas esperando para “receber o peixe”. Mulheres que me mostraram o caminho para me valorizar, mulheres que me apresentaram um Deus maravilhoso. Sou grata a Ele por toda minha caminhada pois, algumas dessas mulheres se espelharam em mim e isso me faz ainda mais forte para continuar. É claro que encontrei nesse caminho algumas com pedras, mas me supero e segui sem dar valor a essa negatividade. Sempre procuro olhar para o lado bom do caminho e perdoar, acima de tudo. Sinto a emoção dentro de mim porque sei que tentei fazer o melhor e dar o melhor de mim a todas que cruzam meu caminho.
Faço parte do MNCP desde o primeiro encontro feito em Natal, quando ainda era o Projeto Cidadãs PositHIVas e tenho orgulho desse movimento que agrega mulheres de todo o país.
Desejo que todas as mulheres possam agradecer pelo dom da vida de nossas mães. Que cada uma possa expressar, mesmo que a distância ou por meio de uma oração, toda gratidão pelo afeto, dedicação e cuidado. Que esse amor incondicional seja a tônica da nossa caminhada. Àquelas que não são mães, também quero expressão minha gratidão por estarem presentes em nossas vidas. Que todas nós possamos ter um mês paz, irradiando esse amor sem cobrança e sem exigir nada em troca, apenas expressando nossa gratidão em gestos de amor, fé e esperança.