Três histórias de super mulheres, ativistas, profissionais, mães tão singulares mas com algo em comum:  a responsabilidade e o amor de ser mãe. Ouvimos desde criança dizerem que mãe é tudo igual, só muda o endereço. Mas entre tantas semelhanças e diferenças, cada uma sabe as dores e as delícias de cuidar e educar uma criança.

Jacqueline Rocha Côrtes

Mãe de dois filhos

 

Sou Jacqueline, Cidadã Posithiva do MNCP,  também chamada por Jacque entre a família e as/os mais próximas/os. Sou MÃE de dois filhos. Gilson, um lindo rapaz de 17 anos, e Luara, uma linda mocinha de 11 anos. Ela e ele nascem para mim há nove anos. Nascimentos cheios de expectativas, de espera, de vontade de ver os rostinhos, sentir a pele, abraçar e beijar, brincar, educar, passear, comer juntos, e amar.

Vitor, meu marido, me conversa ao pé do ouvido, quase que como um segredo, um afago, um mantra; e diz que quer ser pai e que eu estava na hora de ser mãe, um projeto de vida que sempre tive. E aí Deus escutou, passou para o universo, que juntou as energias para que nossos filhos chegassem.

Se tornar mãe foi uma gratidão enorme, uma sede de dar meu amor, de levar alegrias e apresentar um mundo diferente daquele que ela e ele tinham conhecido e convivido até então. Vontade de pegar no colo, tocar, sentir seus corações. E ser mãe é um eterno aprendizado, gratificante, que traz sensação de plenitude, de alegria, de amparo, de ninho, de troca de amor e descobertas, é um presente divino. E ao mesmo tempo, é assustador, inesperado, surpreendente, irritante, sufocante, como diz meu marido: “uma mistura de amor e ódio”. E são mesmo, de ambas as partes. E isso que faz ser único, ser mãe.

Sou mãe que ensina muito. Fico atenta, no pé mesmo, devo sufocar, às vezes. Rigorosa nos estudos, na ética humana, no respeito, nos conceitos de boa fé e bem estar. Tomo conta, cuido, vigio, pergunto, levo trago, antenas ligadas. Mãe ansiosa. Igualmente, sou mãe amorosa, carinhosa, adora acarinhar meus filhxs. Seus cabelos, faces, ombros, braços, corações. Brincalhona, uma piada às vezes, performática. Sou mãe que conversa sobre tudo: vida e morte, sonhos, sexo, drogas, boa fé e má fé; caráter, personalidades, passeios. Sou mão que vai (já fui mais) a parques, praias, shoppings, pescarias, busca curiosidades, palhaçadas. Não abro mão do Caráter. Sou obstinada com essa questão. Caráter! Boa fé! Ética! Uma pessoa de bom caráter pode errar muitas vezes, sempre será lhe dada a oportunidade de aprender, acertar e surpreender, contribuir; já a pessoa de mau caráter pode acertar muitas vezes, mas não é confiável, querida, admirada, respeitada. E eu quero que meu filho e minha filha possam transitar por e atrair boas energias, vibrações, e que seus caminhos sejam leves. Tudo que uma mãe quer para sua prole. E eu não sou diferente nesse quesito mãe de fé e força!

Meus filhos muito me ensinam. Promovem-me oportunidades diárias de praticar o amor, a humildade, a paciência, a aceitação; a escuta, a flexibilidade, a parceria, a autonomia e a confiança. Nossa relação é de amor, de amizade e de carinho, respeito. Temos também momentos de conflitos, crise geracional, imposição, teimosia, mentira, frustrações, agressões verbais. Mas no mexe e mexe, no mistura tudo, saímos sempre no lucro, nós quatro. O amor impera e a vontade de beneficiar a vida de nossxs filhxs entoa e conduzem nossas atitudes e práticas, nossos corações e mentes.

Minha maior alegria em ser mãe, é ser chamada de MÃE, é se amada como MÃE, e respeitada como MÃE. Este lugar é único no coração dos filhos, e quando somos únicas no coração deles, somos para sempre. E esse sentimento do para sempre, me traz uma responsabilidade, um compromisso divino, lacrado antes do encontro de nós quatro. Nós nos propusemos a estarmos juntxs e em uma família, com as nossas diferenças, para assim contribuirmos com a mudança de mentalidade e evolução do planeta. Um pai gay, uma mãe transexual redesignada, uma mulher que vive com HIV há 26 anos. Filha e filho negrxs, que foram adotados e tiveram experiências bem desafiadoras desde cedo. Uma família fora dos padrões estabelecidos hegemonicamente; uma família singular, e plural como tantas outras de singularidades semelhantes.

O que eu desejo para meus filhxs? Eu desejo que eles tenham desejos, sonhos e projetos de vida. Eu desejo que eles escolham caminhos que possam evitar dores mais fortes ou intensas; eu desejo que eles sorriam muito, que desfrutem a vida, e que possam contibuir para um mundo melhor. Eu desejo que elxs sejam felizes!

Como auto-homenagem, eu homenageio a toda mãe e peço que a sabedoria e a ajuda nunca lhes faltem. A fé e a coragem.

SALVEM MÃES!

Ane Aveline da Silva Parente

Mãe de duas meninas gêmeas         

Ser mãe para mim é o que me move. A maternidade foi um divisor de águas em minha vida, o que não me deixa esmorecer, me fortalece e me mantém em pé. 

Optei por ter muito amor dentro de mim, por querer constituir uma família e ter os sentimentos únicos da maternidade, mesmo não podendo amamentar.     

Às vezes  sou rígida mas sem perder a ternura, sou a matriarca e tento ser justa com muita equidade e amor. Se tem algo de que abro mão é do RESPEITO, não somente a mim, mas num todo. Ensino às minhas filhas a procurarem entender e a lidar com as diferenças. Conversamos sobre tudo abertamente e sempre estimulo que elas sejam participativas, cumpridoras de seus deveres, saibam exigir seus direitos e, principalmente, que sejam independentes, estudem muito para que tenham um bom futuro. Desejo que minhas filhas sejam altruístas e mulheres justas.  

Me sinto feliz quando vejo a alegria de viver nos olhos delas e atitudes do bem em nosso dia a dia.

O maior desafio em ser mãe solo é suprir a ausência de um pai.  É muito difícil ser mãe, muitas vezes, exageramos no desejo de acertar e acabamos errando. Quando isso acontece, é preciso ter humildade e bom senso de reconhecer nosso erro e nos desculparmos.

Uma mensagem para todas as mães que deixo é: “Procurem agir com o coração sem perder a razão e ser o mais transparente possível, passando confiança para que seus filhos se sintam a vontade para tirar as dúvidas que surgem com você e não com estranhos. Não basta ensinar, temos que dar exemplo. Se no MNCP há quem não é mãe mas deseja…SEJA.  Não importa se biológica ou do coração. Não se prive desse amor incondicional que é ser mãe. Seja muito feliz”.

Juliana Corrêa 

Mãe de três filhos

 

Sou mãe da Mayara, do Alexandre e do Angelo Gabriel. Sempre sonhei em construir uma família e ser mãe. Se essa pessoa que ama sem medir esforços e luta todos os dias para dar o seu melhor aos filhos.

Aos vinte e quatro anos de idade, grávida de dois meses, recebi meu diagnóstico positivo para o HIV. Tive que aprender a me tornar mãe vivendo com HIV e ser forte para não desistir do cuidado com o tratamento antirretrovirais. Não foi fácil mas sou uma mulher que nunca desistiu de lutar pela vida. Não abro mão do amor que sinto por meus filhos e sei que esse amor é recíproco.

Meus filhos são muito especiais para mim. Por eles me tornei uma pessoa melhor, enfrento as dificuldades da vida, que não são poucas, com coragem. Assim como eles me ensinam muito, todo dia, eu procuro orientá-los para que sejam homens e mulheres de bem, sem preconceitos. Ensino-os da importância de amar o próximo com igualdade e sem julgamento. Talvez por termos uma relação muito aberta, o amor e o cuidado um com o outro prevalece. Me sinto feliz por ser assim, uma mãe que não foge a responsabilidade, porque mãe é isso… é ter no colo o poder de acalmar, no sorriso o poder de confortar, de poder amar e amar. É claro que passamos por desafios que são difíceis, dias de incertezas mas, mesmo no sofrimento, temos essa capacidade interior de enfrentar, de proteger, cuidar e querer o melhor para nossos filhos, o melhor que a vida possa oferecer. Desejo que meus filhos tenham seus direitos respeitados e um dia possam viver num Brasil melhor do que nos encontramos hoje. 

Muitas mulheres já passaram por situações difíceis, principalmente quando falamos em maternidade. Certamente já pensaram em desistir, por achar que não conseguiriam superar os problemas, mas quando olhamos nos olhos de nossos filhos e vemos o amor, nos sentimos fortes, capazes de superar e ir além das circunstâncias. Temos que fazer escolhas e, muitas vezes abrir mão de nossos objetivos e sonhos, mas ser mãe vale a pena. Somos mulheres maravilhas.