Manifestantes foram às ruas nesta quinta-feira (15) em diversas cidades do país em protestos pedindo justiça após a execução da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL), morta a tiros na noite de quarta-feira (14) dentro de um carro na região central da capital fluminense. O motorista Anderson Gomes também foi baleado e morreu.
O fato também causou indignação entre as mulheres do movimento social que lutam contra a aids no Brasil. “Marielle representa a todas nós, mulheres negras, brancas, indígenas, trans, pobres ou ricas, que um dia se sentiram no direito de lutar contra as injustiças que a todo instante nos debatemos. Temos orgulho de você, Marielle, e por isso náo vamos nos calar”, diz nota oficial do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas sobre o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro.
No Rio de Janeiro, artistas e intelectuais lamentaram a morte da vereadora. Nomes como Caetano Veloso e Elza Soares homenagearam Marielle. Também no Rio, houve protestos na Cinelândia e em diferentes pontos do Centro. Após acompanhar o velório na Câmara, o ato contra a morte de Marielle seguiu para a Alerj.
Em São Paulo, milhares fecharam um trecho da Avenida Paulista em frente ao Masp. O protesto chegou a tomar as duas pistas, seguindo para a rua da Consolação e depois para a praça Roosevelt.
Aos gritos de “não acabou, tem que acabar, eu quero o fim da Polícia Militar”, “Marielle, presente” e “não vão nos calar”, os manifestantes também afixaram cartazes, acenderam velas e riscaram paredes e pontos de ônibus com mensagens de protesto.
Além dos atos no Brasil, houve protestos em Portugal e em Nova York. No Parlamento Europeu, deputados do partido Podemos também se manifestaram.
#Mariellepresente
Mulher, negra, mãe, feminista, socióloga, “cria da favela”, como ela mesmo gostava de falar. Nascida no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro, em 27 de julho de 1979, Marielle Francisco da Silva, a Marielle Franco, era referência na luta pelos direitos humanos. A mais recente conquista na área foi o mandato de vereadora na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, eleita pelo PSOL.
Com bolsa integral, após ser aluna do Pré-Vestibular Comunitário da Maré, Marielle Franco se graduou em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Durante os estudos na PUC, ela não se envolveu com movimentos estudantis, por conta da pouca disponibilidade de tempo, dividido entre estudos e trabalhos para sustentar a filha Luyara, nascida quando Marielle tinha 19 anos. Hoje, a jovem tem 18 anos.
Com o diploma de socióloga, ela, que já tinha trabalhado como educadora infantil na Creche Albano Rosa, na Maré, se tornou professora e pesquisadora respeitada. Depois virou mestre em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Ações contra a violência nas favelas
A vida da política foi dedicada à militância na defesa dos direitos humanos e contra ações violentas nas favelas. A luta foi impulsionada após a morte de uma amiga, vítima de bala perdida, durante um tiroteio envolvendo policiais e traficantes de drogas na favela onde nasceu e viveu.
Marielle Franco integrou, em 2006, a equipe de campanha que elegeu Marcelo Freixo à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). Após a posse dele como deputado, foi nomeada assessora parlamentar dele. Depois assumiu a coordenação da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da assembleia.
Há dois anos, na primeira disputa eleitoral, foi eleita com 46.502 votos para o cargo de vereadora na capital carioca pela coligação Mudar é possível, formada pelo PSOL e pelo PCB. Marielle Franco foi a quinta mais votada na cidade. Sua trajetória acadêmica e política lhe valeu a declaração pública de voto de 257 acadêmicos e professores, que declararam apoio a Marielle.
“Nossa conta era de superar cerca de 6 mil ou 6,5 mil votos. Até o último minuto no sábado à noite a gente estava fazendo campanha. Fiquei muito feliz com essa votação expressiva porque eu acho que é uma resposta da cidade nas urnas para o que querem nos tirar, que é o debate das mulheres, da negritude e das favelas”, disse ela pouco depois dos resultados.
Carismática, gritava com orgulho uma frase de efeito que arrancava aplausos da plateia: “Lugar de mulher é onde ela quiser”.
Leia a seguir a carta do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas escrita pela ativista Jenice Pizão:
Marielle Franco, 38 anos, mãe, feminista, socióloga, mestre em administração publica, dirigente do PSOL e militante das causas dos mais vulneráveis.
Era vereadora da cidade do Rio de Janeiro, eleita com mais de 46 mil votos. Orgulho.
As execuções de Marielle e Anderson Gomes, gravíssimos crimes políticos nos amedrontam e tentam intimidar e silenciar as organizações sociais que lutam contra o arbítrio e esse Estado de Exceção que vivenciamos. Não conseguirão.
Foram estupidamente executados pelo recrudescimento do racismo, machismo e fascismo, por essa violência diária que agride a todas nós, mais ainda para quem, como ela, lutava pelos direitos humanos e plena democracia.
Marielle representa a todas nós, mulheres negras, brancas, indígenas, trans, pobres ou ricas, que um dia se sentiram no direito de lutar contra as injustiças que a todo instante nos debatemos.
Temos orgulho de você, Marielle, e por isso náo vamos nos calar. Junto com milhões de outras vozes, do Brasil e do mundo, exigimos a imediata apuração de crime bárbaro e a punição de seus verdugos.
O Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas está de luto.
#mariellepresente
Fonte: Agência de Notícias da Aids, com informações