O Aprisionamento da Alma no Universo virtual

Por: Psi. Fabrícia Lins 

O aprisionamento da alma a partir do universo virtual nos conduz para o caminho da alienação, nos rouba a possibilidade da riqueza da interação, dos ganhos consistentes do vivenciar as trocas presenciais, da produção dos sonhos  que nos faz ousar na vida e da realidade que acaba se resumindo a meras repetições. Chamamos na Psicanálise, pulsão de morte, quando essas coisas que se repetem vêm carregadas de afetos que impactam a nossa vida de forma negativa. Empobrecem a nossa condição humana, nos causa estranheza diante das experiências emocionais e da constituição da nossa subjetividade.

O nosso amadurecimento vai se lentificando até um dia, quem sabe, nos dermos conta do abismo ao qual nos condenamos quando nos deixamos capturar pela euforia dos likes do universo virtual, onde, muitas vezes nos perdemos das nossas crianças encarceradas em seus quartos diante das luzes dos seus jogos e redes “sociais”.

Não é à toa que em pleno século XXI, onde existe a maior variedade de vias de entretenimento, há também, um considerável aumento no número de ideações suicidas e auto lesões, principalmente entre crianças e adolescentes. Segundo a OPAS/OMS, o suicídio é a segunda principal causa de morte entre jovens com idade entre 15 e 29 anos, 79% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda seguido pela triste realidade de um mundo que adoece mentalmente, perdido na fragilidade das relações líquidas, da urgência e no automatismo das ações, do consumismo e da competitividade acirrada¹. 

Pode-se perceber que a saúde mental é fortemente atravessada pelo circuito das nossas vivências emocionais e por isso precisamos, urgentemente, rever nossa forma de interação, conosco, com o outro e com o mundo.

O pensamento operatório, aquele que expressa ideias “retas”, rasas, sem muita elaboração, ou seja, pensamento reativo, sem estruturação, está cada vez mais presente em nossas ações. O que nos induz aos mesmos erros, ao mesmo ciclo vicioso do “mas, sempre foi assim!!!”.

Por isso é de extrema importância que possamos parar um pouco, respirar e olhar para a nossa rotina, olhar a quantas andam as nossas emoções, de que forma estamos educando nossos filhos, em que prisão virtual nós o colocamos e em que prisão virtual nós nos perdemos da nossa identidade.

Cuide bem de você e das suas crianças.

Sem saúde mental não há saúde.

Fonte: 1-  https://www.paho.org/pt/topicos/suicidio