Quem são elas?

Estamos falando das bonecas de pano produzidas por mulheres que vivem com HIV/AIDS (MVHA) filiadas ao MNCP.

Nos últimos dois anos, os problemas sociais, econômicos e emocionais decorrentes da pandemia do coronavírus atingiram significativamente a população feminina, porém, para as MVHA, o cenário tornou-se ainda mais desafiador. Sem condições de acessar o mercado de trabalho, com a aposentadoria cortada, sobrecarga de trabalho doméstico, vivências de violência e, com a interrupção dos serviços de saúde especializados, a situação de muitas é preocupante. Embora saibam da importância do isolamento social para prevenção da doença e preservação da saúde, muitas MVHA têm passado momentos difíceis e, consequentemente, a saúde mental e emocional têm sido abalada.

Com o objetivo de promover a autonomia, desenvolvimento pessoal e financeiro de 35 MVHA das 05 regiões do Brasil, o MNCP desenvolveu o Projeto Mulher Empreendedora: Uma resposta para o impacto da pandemia de COVID 19. Através do projeto, as mulheres receberam aulas com o passo a passo para confecção de bonecas de pano tradicionais e um curso de empreendedorismo. 

A iniciativa de enfrentamento da crise tornou-se uma oportunidade de reestruturar e reescrever a história dessas mulheres. 

Tivemos momentos marcantes em nossos encontros, rimos, nos emocionamos e choramos juntas. Descobrimos talentos e habilidades que estavam esquecidos pelas dores e correria do dia a dia. Ouvimos histórias e depoimentos que nos levaram para uma viagem ao passado, memórias da infância que ficaram registradas em nosso subconsciente vieram à tona. E tudo isso porque as bonecas de pano tem esse “poder” de estimular a imaginação, a criatividade e ainda oferecem o aconchego de um verdadeiro abraço. 

Enquanto que para algumas MVHA, a participação foi como uma válvula de escape para ocupação da mente, para outras foi a realização de um sonho e a oportunidade de tornar-se uma empreendedora no universo das bonecas de pano contribuindo para melhorar a renda familiar. 

Transformando a realidade

Acompanhem os depoimentos abaixo:

Iranilde Pereira Fonseca, 55 anos

Campinas -SP 

Minha vida é cheia de altos e baixos mas vou seguindo em frente. Eu estava sem ocupação, sentindo muito a ausência de minhas netas, com medo de passar mal e nem ter hospital para me atender. Minha filha mora comigo e ficou desempregada. Financeiramente ficamos no vermelho. Soube do curso através da Jenice. Eu queria muito fazer mas não tinha máquina de costura. Para minha surpresa e alegria, ela conseguiu uma pra mim e eu ia ter uma ocupação e também aprender a fazer bonecas. 

Eu já tinha noção de costura, mas para fazer o corpo da boneca tive dificuldade. Costurei, desmanchei duas vezes a primeira boneca. 

Quando eu tinha 03 aninhos costurei o meu dedo na máquina da minha mãe. Foi ela quem me ensinou a costurar algumas coisinhas, não muito. Foi muito bom fazer o curso. Voltei a costurar e ouvi os relatos das mulheres, aprendi com a experiência de quem já tem conhecimento, aprendi muito com as dicas e até com as dificuldades de cada uma. Eu vi que não era só eu que tinha dificuldade, então foi uma lição pra mim. 

Me sinto muito feliz por mais uma etapa concluída. O curso me trouxe lembranças da minha infância. Estou costurando a sexta boneca! 

O curso ainda me ajudou muito mentalmente, no ocupacional e no emocional. Está sendo uma terapia para mim. 

Quero produzir muitas bonecas, quero ter uma renda com produção e venda delas e, poder comprar materiais.

Laurinha de Souza Brelaz, 60 anos

Parintins/AM

Sou servidora pública na área de RH a 24 anos, formada em Gestão Pública e desde que fui diagnosticada com HIV, encontro na militância uma forma de lutar pelos direitos porque em 1990 não existia ainda o coquetel, exames e simplesmente era uma sentença de morte. Em 1996, com a chegada dos medicamentos, a vida foi tomando outros rumos. Com a segurança de prolongar a vida já dava pra pensar que eu poderia ver meus filhos crescerem,  porém o preconceito foi o maior vírus que tive que enfrentar e infelizmente ainda hoje é um fantasma que nos cerca.

Passaram os anos e agora com a chegada da COVID19,  outra vez o medo bate na nossa porta, perdi uma sobrinha com 23 anos e quase toda minha família foram infectados, uns ficaram entubados, outros no respirador e o desespero de correr pra todo lado em busca de oxigênio para não morrerem,  a família grande, porém Manaus, onde moram muitos familiares, colapsou e vimos a morte de perto, todos os dias. 

 Isso impactou muito a minha vida, eu chorava todos os dias e a distância me tornava impotente e entrei em profunda depressão, como se não bastasse ter que ficar isolada eu morria de medo de atender o telefone.

Cheguei a passar fome, meu salário não dava pra suprir minhas necessidades básicas,  pois eu costuro para completar minha renda.

Ao tomar conhecimento do Curso de bonecas, não pensei duas vezes, me inscrevi e posso dizer que já ficava ansiosa para assistir as aulas e ouvir as histórias das mulheres, elas me ajudavam a dar um novo sentido nesta Pandemia.

Meu jeito extravagante, me fez voltar a ser criança,  quando consegui fazer minha primeira boneca, eu olhava pra ela e não me encontrava nela, então resolvi dar vida e incluir nela o meu jeito e me apaixonei, foi sensacional.  

Já fiz outras bonecas e já doei, para fazer a alegria de algumas pessoas. Quando começo a fazer uma boneca, já tenho em mente para quem vou dá, me emociono quando entrego. Eu me permito conversar com as minhas criaturas, elas vieram no momento de solidão e isso me faz superar o momento.

Fazer bonecas, salvou a minha vida. Vou continuar fazendo bonecas e edições limitadas (nenhuma é igual a outra) cada vez que faço outra e outra e outra, sinto que estão mais evoluídas  e lindas.

Michele Almeida Santos, 51 anos  Maceió AL 

Pense numa vida aperriada de periferia, com alegrias, tristezas e por aí vai (risos).

Essa pandemia impactou minha vida em todos os sentidos, frustração de planos, sem expectativas de futuro. Aconteceu justamente num período em que fraturei o pé e tive que ficar distante da família. Senti medo de ser contaminada com o vírus da COVID 19 e esse medo por mim, por meus familiares e amigos abalou demais a minha saúde mental.

Fui muito afetada financeiramente também. Graças a minha representante do MNCP a Rita de Cássia, fui convidada para participar do projeto de bonecas. Essa foi mais uma opção para eu aprender sobre empreendedorismo e fazer o que adoro – artesanato. Eu já sabia costurar porque uma senhora que era minha vizinha me ensinou mas mesmo assim, tive dificuldade no início mas sou persistente nos meus objetivos.

Fazer o curso, participar das reuniões e ouvir os relatos das companheiras me ampliou a visão sobre empreender, agregando novas possibilidades e, também foi pura nostalgia. Eu não acreditava que tinha conseguido terminar minha primeira boneca. Já estou fazendo outras.

Costurar bonecas de pano tem mantido minha mente ocupada, me remete à infância, me ajuda a quebrar barreiras interiorizadas. Sempre sigo me dizendo: Eu posso, eu consigo!

Minha expectativa agora é fazer as bonecas para vender e, também quero confeccionar o bastante para doar às mãezinhas que não podem comprar para suas crianças.

As bonecas de pano resistem ao tempo, transformam vidas e estão sendo a fonte de renda para muitas mulheres que participaram deste projeto. 

Se você tiver interesse em conhecer mais sobre o projeto e adquirir bonecas de pano, entre em contato conosco:

[email protected]

[email protected] 

Este projeto contou com o apoio do UNAIDS e Solidarity Fund

Secretaria de Comunicação

MNCP