Neste 25 de Julho, data que marca o dia da mulher negra na América Latina e no Caribe, o MNCP compartilha com os leitores a história de Alika, uma africana linda que a oito (8) anos veio ao Brasil impulsionada pela esperança e vontade de viver. 

Cheguei ao Brasil em 2013 atrás do tratamento para o HIV.  Infelizmente no meu país não disponibilizavam os antirretrovirais para os pobres. Então, a minha mãe  decidiu me trazer ao Brasil com a esperança de um tratamento e, por essa atitude, me encontro viva. 

No meu país eu era professora pública. Comecei a adoecer e por este motivo fui afastada do serviço. Mas,  naquela altura, mesmo afastada, continuava recebendo o salário.

Após dois anos no Brasil, ligaram-me a partir do meu país, comunicando que eu deveria regressar se quisesse continuar a receber o salário de professora. Me lembrei de tudo que vivi sem assistência médica, então, preferi não voltar. Assim, o Ministério da Educação cortou meu vínculo salarial alegando abandono da profissão. 

Quando vim, acompanhada de minha mãe, eu não conseguia andar sozinha, precisava de ajuda para tudo mas ela precisou regressar, me deixando aqui, nas mãos de Deus.  

Não posso dizer que foi tudo muito fácil. Tive dificuldades para ser atendida no SUS, por essa razão iniciei as consultas numa clínica particular mas já estava muito doente, desenvolvendo a AIDS. Era preciso iniciar o tratamento com o coquetel urgente. Foi aí que me encaminharam para a Unicamp onde me senti acolhida e, para mim, é o melhor hospital do país. 

Sou uma mulher que já sofreu muita violência física e  verbal, tanto aqui no Brasil quanto no meu país e o preconceito é também muito presente. Senti quando cheguei e sinto até hoje. 

Existe um racismo muito camuflado, vejo isso no ônibus, se tiver duas cadeiras onde eu sento, a cadeira ao lado só sentam se não tiver outro lugar, ou seja, é sempre a última cadeira a ser ocupada. Quase ninguém quer sentar-se ao lado dos negros, como se fôssemos contagiosos.    

Arrumar e manter-me num emprego é outra dificuldade pois a rotina das consultas médicas e as idas ao laboratório para realizar os exames são sempre um grande desafio porque as empresas não aceitam muitas faltas. 

Por muito tempo fui dependente do CRAS e do Bolsa Família aqui no Brasil. Hoje, graças a Deus, tenho um trabalho e estou estabilizada. 

Mesmo com toda dificuldade vivida, ter vindo para cá foi a melhor decisão. Superou minhas expectativas. Recebo todo tipo de tratamento bons e ruins mas há um amor em pessoas que Deus colocou no meu caminho, como por exemplo, a Tida, a Jenice e  não  deixando de mencionar a doutora  que me recebeu na Unicamp, foi ela quem falou à minha mãe que eu precisa começar a medicação urgente.

Anos depois de ter chegado aqui, conheci o meu marido e casamos. Ele é negativo para o HIV. Contei minha situação e ele aceitou numa boa. Hoje tenho parte da família por perto. Estão aqui minha irmã, o marido e os filhos dela.

Quando penso nessas datas comemorativas me pergunto no que isso ajuda. Na minha humilde opinião muitos direitos ainda estão longe de se ver. A cada dia mais negros e negras são mortos, são violentados, são insultados, humilhados e excluídos. É preciso que haja mais compromisso com os direitos humanos e amor entre as pessoas.

Sinto muita saudade do meu país e pretendo voltar um dia para visitar minha preciosa família. Infelizmente meus dois filhos ainda moram lá,  e não consigo trazer eles pra virem morar comigo. Desde que saí de lá não voltei mais e não os vejo a oito anos. Sinto muita saudade.  

Sempre digo para as mulheres negras levantarem a cabeça, somos lindas e maravilhosas do jeito que Deus nos fez. Devemos continuar lutando pelos  direitos de igualdade.  A cor da nossa pele é só um detalhe o que vale é a competência, humildade e disciplina.

Todo ser humano deve aprender a se colocar no lugar do outro. Não faça  aos outros o que não gostarias que te fizessem  –  Empatia.

 

Alika Sihan Winda

MNCP