HIV é a sigla em inglês do vírus da imunodeficiência humana. Causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+, alterando o DNA dessa célula que o HIV faz cópias de si mesmo,  depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.1

Ser portador do vírus do HIV não é a mesma coisa que ter aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações.1 

As pessoas HIV positivas (assim como muitos com doenças crônicas) têm maior probabilidade de sofrerem com distúrbios psiquiátricos, pois se sentem excluídos e discriminados. Além disso existe o fato do vírus HIV atingir diretamente o sistema nervoso central, lesando o mesmo, causando também, sintomas psiquiátricos.

Demência na doença pelo vírus da imunodeficiência humana ou doença pelo HIV resultando em encefalopatia se refere a uma degeneração cerebral que se desenvolve no curso da doença pelo HIV, mesmo na ausência de qualquer outra doença ou infecção simultânea que possa explicar a presença das características clínicas. 3 

CAUSAS 

A demência pode ser manifestação inicial da Aids. 2,3

Os termos Complexo Demência-Aids, Demência-HIV, encefalopatia pelo HIV e complexo demência associado-HIV ou Aids são sinônimos.3,4,5,6,7 

As manifestações neurológicas mais comuns, ligadas diretamente ao HIV, são o transtorno cognitivo e motor menor e a demência associada ao HIV.3

A demência da AIDS é causada pelo próprio vírus HIV, e não necessariamente pelas infecções oportunistas que ocorrem comumente no HIV avançado. 

O HIV pode afetar o cérebro por meio de vários mecanismos. As proteínas virais podem danificar as células nervosas diretamente ou infectar células inflamatórias no cérebro e na medula espinhal. O HIV pode então induzir essas células a danificar e desativar as células nervosas. O HIV leva a um processo inflamatório generalizado, que pode atingir a memória, bem como outros processos de envelhecimento, incluindo doenças cardíacas.4,5

Geralmente estes pacientes HIV assintomáticos podem ter um dos dois padrões: depressão, lentidão psicomotora e diminuição da memória verbal ou diminuição do funcionamento cognitivo verbal e não-verbal na ausência de distúrbios do humor.

Dentre as complicações neurológicas primárias da Aids temos déficits cognitivos como a demência associada ao HIV e formas mais leves, como o transtorno cognitivo/motor menor, sendo que ambas podem alterar as atividades da vida diária e reduzir a qualidade de vida dos pacientes. 

Infecção pelo HIV-1 é a mais comum, previsível e tratável causa de déficits cognitivos em indivíduos com menos de 50 anos.5,6

O termo Complexo Demência associado ao HIV é classificado como uma demência “subcortical” conforme estudos de  neuroimagem e anátomo-patológicos, portanto tem alguma similaridade com a demência das doenças de Huntington e Parkinson.7 

A característica essencial do Complexo Demência associado ao HIV-1 é o seu comprometimento cognitivo que pode ser acompanhado de disfunção motora, comportamental ou ambas.7  

O início da demência pelo HIV é insidioso e em seus estágios iniciais o paciente pode se queixar de dificuldade de concentração, apatia e lentidão mental. Estes sintomas podem ser confundidos com depressão. Nos estágios mais tardios a síndrome progride aparecendo alterações mais específicas de perda de memória, dificuldade de leitura e alterações da personalidade associadas à lentidão motora. 

O desenvolvimento da demência ocorre tipicamente em semanas e meses, sendo que a ocorrência de sintomatologia aguda aponta para outra etiologia. 6,7

Alguns pacientes podem mostrar estabilidade do quadro por vários meses ou anos com progressão muito lenta.8 Além disso, as manifestações neurológicas relacionadas à infecção pelo HIV podem estar relacionadas a seu efeito direto no sistema nervoso, e ao comprometimento do sistema imunológico, levando à maior predisposição a infecções oportunistas e neoplasias.9

 

Classificação das manifestações neurológicas no paciente com HIV

Direta (pelo HIV)                 Indireta (imunossupressão ou do tratamento)

Meningite aguda                 Infecções oportunistas

Meningite crônica                Neoplasias

Encefalopatia                      Tóxico-metabólica

Mielopatia                            Relacionados a drogas

Neuropatia periférica           Doença cérebro-vascular

Miopatia/miosite 

https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1190/manifestacoes_neurologicas_no_paciente_com_hiv.htm 9

Podemos observar sequelas relacionadas às doenças oportunistas do SNC, como neurotoxoplasmose, meningite tuberculosa e neurocriptococose, também são importantes causas de danos cognitivos e transtornos mentais orgânicos.3,7  

EPIDEMIOLOGIA

A demência pode ser manifestação inicial da Aids em 5%. Déficits cognitivos se desenvolviam em 30% das pessoas vivendo com Aids e 15% tinham franca demência antes das terapias antivirais (TARV). Já com o uso da terapia antiretroviral as alterações cognitivas afetam até 20% a 30% dos indivíduos HIV.10

Na era pré-TARV (terapias antivirais), a demência era uma complicação comum da infecção, entretanto na era TARV a incidência da demência diminuiu.6.1 

 

SINTOMATOLOGIA 

Os sintomas mais observados são: 

  • Diminuição da Produtividade no trabalho
  • Diminuição da concentração
  • Dificuldade em aprender coisas novas
  • Libido diminuída
  • Confusão mental 
  • Dificuldade em encontrar palavras (afasia) 
  • Apatia (indiferença)
  • Abandono de hobbies ou atividades sociais com isolamento 
  • Depressão 12

A doença inicialmente sutil pode progredir para sintomas mais graves, como:12

  • Distúrbios do sono
  • Psicose – Transtorno mental e comportamental grave, com características como extrema agitação, perda de contato com a realidade, incapacidade de responder adequadamente ao ambiente, alucinações , delírios. 
  • Mania – Extrema inquietação, hiperatividade, fala muito rápida, mau julgamento.
  • Convulsões 12

DIAGNÓSTICO

Quando é diagnosticada a infecção pelo HIV ou quando a função mental muda nas pessoas com infecção pelo HIV, pode ser considerada a imagem por ressonância magnética (RM) como instrumento diagnóstico, tomografia e/ou punção lombar, para verificar a existência de outras causas de disfunção no cérebro, como infecções por toxoplasmose, ou outras afecções neurológicas como tumores, linfomas, etc. 

Quanto mais rápido o diagnóstico for estabelecido, melhor prognóstico de perda cognitiva pois o tratamento precoce pode prolongar a vida.2,6 

A demência associada ao HIV não tratada pode causar danos pessoais e sociais irreparáveis, com diminuição da capacidade de adesão ao tratamento, e piora geral.6 

Se houver infecção pelo HIV ou suspeita de demência associada ao HIV, os médicos também realizam exames de sangue para medir o número de glóbulos brancos chamados linfócitos CD4, a quantidade de HIV e a carga viral, pois uma diminuição do CD4 e aumento da carga viral pode aumentar o risco de infecções (encefalites, meningites), e com isso ocorrer uma perda cognitiva demencial.

É importante considerar, no entanto, outras possíveis causas desses sintomas, como distúrbios metabólicos, infecções, doenças cerebrais degenerativas, acidente vascular cerebral, tumor e muitos outras patologias que podem estar associadas ao quadro.11

O eletroencefalograma (EEG), uma série de eletrodos, são fixados no couro cabeludo. A atividade elétrica do cérebro é lida e registrada. Nos estágios posteriores do ADC, a atividade elétrica (que aparece como ondas) é mais lenta do que o normal. O EEG também é usado para verificar se uma pessoa está tendo convulsões.11 

O teste neuropsicológico é o método mais preciso de identificar e documentar suas habilidades cognitivas.  E pode ajudar no planejamento do tratamento. 

Esses exames podem ser repetidos periodicamente para avaliação da progressão ou regressão do quadro. 12

A Escala Internacional de Demência pelo HIV (IHDS) é um teste de triagem rápido, validado para a população brasileira que, de acordo com o ponto de corte estabelecido, pode detectar todas as formas do quadro demencial HAND (assintomática, leve e demência).11

TRATAMENTOS

A demência secundária ao HIV deve ser abordada por diversas frentes. A avaliação periódica para evitar uma progressão rápida é um dos melhores preventivos. Nenhum tratamento específico está disponível para o declínio cognitivo na AIDS. Sintomas específicos, como depressão e distúrbios comportamentais, às vezes são aliviados pela terapia medicamentosa. Os medicamentos psicofármacos podem melhorar os sintomas da depressão e outros. Os medicamentos antipsicóticos podem ajudar a melhorar a agitação ou agressão graves, alucinações ou delírios.11,12

Vale ressaltar que os medicamentos psicofármacos devem ser instituídos com parcimônia, principalmente no tocante às interações medicamentosas entre os TARV (terapia antiviral e os psicofármacos), onde pode ocorrer alteração da metabolização de ambos os medicamentos. 13

Os grupos de apoio e ajuda, bem como o apoio familiar e de amigos auxiliam sobremaneira no acompanhamento dos quadros e atuam como rede de proteção, onde o paciente terá uma rede de atenção que o auxiliará na condução de seus tratamentos, na adesão ao tratamento e nas rotinas de vida, que podem ficar comprometidas com a evolução da patologia. 2;12,14

CONCLUSÃO 

O acompanhamento periódico e ininterrupto, como em todas as patologias crônicas, em serviços especializados com equipe multidisciplinar associados à terapia anti-retroviral (TARV) são os melhores protetores dos agravos causados pelo vírus do HIV. 

 Sem os cuidados necessários, esses sintomas pioram gradualmente. Eles podem levar a um estado vegetativo, no qual a pessoa tem consciência mínima de seu entorno e é incapaz de interagir. 

Prevenir os agravos causados pelo vírus do HIV é a essência do tratamento para qualidade de vida.

Referências bibliográficas:

  1. http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/o-que-e-hiv
  2. Gonçalves M. Castro C.: Psychiatry online Brasil – Psiquiatria na Prática Médica NEUROPSIQUIATRIA HIV-AIDS; Vol.20;Nº 6;; jun. 2015
  3. https://pebmed.com.br/qual-e-a-relacao-entre-o-hiv-e-as-doencas-psiquiatricas/
  4. https://www.webmd.com/hiv-aids/dementia-hiv-infection
  5. 1. McArthur JC, Hoover DR, Bacellar H, Miller EN, Cohen BA, Becker JT, et al. Dementia in AIDS patients: incidence and risk factors. Multicenter AIDS Cohort Study. Neurology. 1993;43:2245-52.
  6. Alterações cognitivas na infecção pelo hiv e aids; Paulo Pereira Christo Rev Assoc Med Bras 2010; 56(2): 242-7
  7. FILHO, José Roberto Pacheco; SANTOS, Flávia Heloísa. Estudos brasileiros sobre demência associados ao HIV
  8. Christo PP, Greco DB, Aleixo AW, Livramento JA. HIV-1 RNA levels in cerebrospinal fluid and plasma and their correlation with opportunistic neurological disease in a Brazilian AIDS reference Hospital. Arq Neuropsiquiatr. 2005;63:907-913.
  9. https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/1190/manifestacoes_neurologicas_no_paciente_com_hiv.htm
  10. 5. Sackor N. The epidemiology of human immunodeficiency virus-associated

neurological disease in the era of highly active antiretroviral therapy. J Neurovirol.2002;2(Suppl):115-21.

  1. em Recife- PE. https://repositorio.ufpe.br/handle/123456789/13951
  2. https://pt.medicineh.com/76-dementia-hiv-infection-58799
  3. GONÇALVES,M.; PELLOGIA, N. C. . NEUROPSIQUIATRIA EM HIV-AIDS – SECAD. 2016. (Coordenador de Área)
  4. https://unaids.org.br/estatisticas/

Prof. Dra. Márcia Gonçalves* 

Médica, CREMESP – 69672  –

Diretora do IMG – www.institutomarciagoncalves.com.br

Psiquiatra- Título da Associação brasileira de Psiquiatria – AMB

Psiquiatra Forense – Título da Associação brasileira de Psiquiatria – AMB Psiquiatra Infantil – Título da Associação brasileira de Psiquiatria – AMB 

Clinica Geral – Título de Especialista em Clínica Médica pela Sociedade Brasileira de Clínica Médica.

Mestrado e Doutorado em Ciências Médicas/ Psiquiatria – UNICAMP. 

Psicanalista – Biblioteca Freudiana Brasileira

Pós-graduação em Psiquiatria Infantil

Coordenadora da Disciplina de Psiquiatria e psicopatologia do Dep. De Medicina da UNITAU

Pós-doutorado – ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica. 

Perita Judicial na área de psiquiatria no Vale do Paraíba e São Paulo desde 2007. 

Perita Judicial –  Membro da Sociedade Brasileira de Pericias Médicas 

Perita em segunda instância do Tribunal da Justiça do Estado de São Paulo.

Conselheira do Conselho estadual de Saúde da Secretaria de Saúde de São Paulo (2020-2022).