Vagarosamente 2020 vai nos deixando com algumas faturas bem altas: um número de mortes expressivo, famílias destruídas pela dor, golpes políticos colocando em risco a vida das pessoas e reforçando estigmas e preconceitos, fundamentalismo religioso prevalecendo em detrimento da ciência, invisibilidade das populações mais vulneráveis… Enfim, mais uma vez a sociedade descobriu que um vírus é capaz de muitas coisas, dentre elas, nos mostrar nossa fragilidade como indivíduos e como sociedade.

Nesse inimaginável momento histórico nacional e mundial, eu convido a todos a acompanhar essa matéria no qual Cidadãs PositHIVas fazem um balanço do ano de 2020 para o movimento AIDS e apresentam suas expectativas para 2021.

Jaciara Pereira – 2020 foi um ano atipico. Não sabíamos com o que iríamos ter que lidar pois a pandemia da COVID 19 chegou tomando uma proporção gigantesca. Foram muitas percas, vidas sucumbiram ao vírus. Foi um ano triste mas também de aprendizado. O movimento aids não parou apesar da recomendação de isolamento. Nossas atividades não deixamos de realizá-las pois aprendemos com o “novo normal” a mexer com a tecnologia e, com isso, desenvolvemos muitos trabalhos o que foi uma grande experiência.

Minhas expectativas para 2021 é a vacina da COVID 19, para que possamos viver sem medo, continuar a realizar o advogacy por políticas públicas para que os direitos das pessoas  sejam respeitados. Espero também que as pessoas tenham solidariedade com o próximo e entendenda o signidicado da palavra amor. Viva a vida!

Jenice Pizão – Começamos o ano com questões pontuais como o desabastecimento de ARV em alguns locais do país. Porém, quando chegaram as notícias da COVID 19, percebemos que acarretaria consequências para as PVHA. Ficou claro que “ninguém deve solta a mão de ninguém”. Numa inciativa do MNCP e do MLCM+, foi desenhado o Projeto “Voluntariado pelas Américas”, com duração de abril à setembro, atendendo demandas de PVHA, para minimizar as consequências dessa pandemia dando apoio de medicamentos, alimentação e psicológica, numa parceria com o movimento de AIDS, gestores e outros atores.

A COVID 19 deu maior visibilidade à fragilidade da gestão no SUS, principalmente nos serviços especializados de IST/AIDS com marcação de médicos e exames atrasados, com alguns ARV disponibilizados de forma fracionada, com a redução nos atendimentos de PrEP e testagens e a Atenção Básica, que poderia ser o suporte necessário, mostrou seu despreparo. Junta-se a isso, o “medo” que o coronavírus trouxe para todas as pessoas e em especial às MVHA, onde a violência doméstica sem o devido respaldo do Estado, a falta de apoio psicológico, a necessidade de sair para trabalhar em transportes lotados ou mesmo sem trabalho, a dúvida de como sustentar-se a si e à sua família, entre outras preocupações. Nesse ano tão complexo, com quase 200 mil mortes, perdemos diversas cidadãs, sendo a nossa querida Alaíde, quem representa nossa dor de todas que se foram. Porém, como toda dificuldade pode ter um bom aprendizado, muitas descobriram novos caminhos que poderiam trilhar, “mudando como deusas, o rumo da história”. Enfim, de alguma forma, todas/os/es saímos um pouco mais fortalecidas e maduras como pessoa.

Como disse em outros espaços, eu tenho sonhos e muitos. O primeiro é “Vacina, já!”, vacinação através do SUS, equânime e universal, de forma segura e eficiente e que todas as instâncias o SUS se fortaleçam e sejam respeitadas. Sobre a AIDS, espero que não o “constrangimento” do viver com HIV/AIDS se tornasse sem sentido, pois esse diagnóstico pode não ser um bilhete de morte e sim uma outra possibilidade de encarar a própria vida e tentar fazer o melhor dela. Para isso, é preciso que as Campanhas de Prevenção fossem constantes, para todos os públicos e não estigmatizassem as pessoas, e pudéssemos reduzir os números da epidemia de AIDS. Que as pessoas pudessem viver livremente sua sexualidade e que ninguém, absolutamente ninguém, fosse desrespeitado pela sua orientação sexual, de gênero, étnica/racial. Enfim, que a violência de todos os tipos, o preconceito e o estigma fosse ficando coisas de livros de história do passado. E que a palavra “deficiente” fosse usada como característica de quem não respeita nem tem empatia com a outra pessoa, como tantos que ainda vemos por aí.  Pelos Direitos Humanos. Pela Vida com Dignidade.

Credileuda Azevedo –  O ano de 2020 nos pegou de surpresa com a pandemia da COVID 19. Para o movimento AIDS foi um ano de incertezas, desafios e de muita luta por direitos que conquistamos e que estão sendo retirados. Tivemos que nos reinventar enquanto movimento pra não deixar ninguém pra traz. Tivemos que cuidar de nós, da nossa família e também de muitas mulheres vivendo com HIV AIDS que se encontravam em maior vulnerabilidade social. Enfrentamos o medo, a ansiedade, a depressão, mais com a certeza de que chegaríamos juntas até o final desta pandemia.

Minhas expectativas para 2021 é que além da vacina para a COVID 19, o governo possa nos tranquilizar em relação aos antirretrovirais, principalmente o kaletra meia dose para crianças. Que em 2021 passamos voltar à normalidade de nossas vidas, de visitar e abraçar quem amamos. Que o movimento AIDS volte com força total em 2021 para se conseguir passar por todos os desafios que ainda estão por vir.

Gina Hermann – 2020 foi marcado por muita articulação via internet, nos levou a utilizar ferramentas que não dávamos tanta importância e, nessa pandemia, foi a salvação para que minimamente pudéssemos seguir em frente mantendo contatos, articulações, informações e o principal, solidariedade. Passamos por um ano de poucas conquistas e muitos retrocessos contudo, nada nos parou. Somos como fênix, sobreviventes.

Espero que o ano de 2021 nos traga esperança, nos mantenha no foco e na luta por direitos e respeito. Desejo que não tenhamos nossas necessidades ainda mais negligenciadas, que nossas consultas sejam regularizadas e nossos infectos voltem a nos atender, não substitutos.  Espero que possamos amar, ser amadas e voltar a nos encontrar presencialmente. 

 

 

No momento mais desafiador de nossa geração, a vacina contra a COVID 19 é sinônimo de vida, de segurança em podermos retomar nossos planos, nossas vidas como estamos acostumados a viver. Precisamos virar essa página!

Por isso, o Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas deseja que tenhamos um Feliz Ano Novo e com VACINA PARA TODOS!