Não deveria ser novidade para ninguém o quão sucateada é a vida da população negra no Brasil. Isso acontece devido às condições sociais, culturais e econômicas em que o negro é submetido em diferentes momentos da nossa história. Inclusive, essa situação continua tendo os mesmos resultados negativos até os dias atuais.

Dentre os inúmeros frutos do racismo, a violência contra a saúde da população negra é um tema importante a ser discutido e combatido. Estatísticas oficiais citadas pela ONU, indicam que a população negra é a que tem o pior índice de saúde e é acometida em maior escala por doenças. Também é na população negra que as doenças evitáveis, são em maior frequência identificadas. Infecções sexualmente transmissíveis como o HIV, a mortalidade de recém nascidos, mortes maternas e tuberculose são algumas das mais comuns.

Se considerarmos os casos notificados de infecção por HIV a partir de 2007, 49% desse total é de pessoas negras. Se calcularmos esse percentual considerando apenas mulheres, 53% será de mulheres negras.  A proporção de negros infectados a cada ano só cresce, enquanto a de brancos diminui. Isso é mais uma prova de como o racismo interfere até mesmo no acesso que o indivíduo terá a saúde, incluindo dentro do SUS (Sistema Único de Saúde). Ainda sobre o HIV, pessoas negras terão menos instrução sobre a prevenção, o diagnóstico e o tratamento do vírus.

Analisando essas e outras estatísticas, enxergamos de forma objetiva o lugar que a mulher negra se encontra colocada na sociedade. É ela quem vive o preconceito por ser mulher, negra e pobre de uma única vez. Ela é a principal vítima dos problemas sociais, culturais e econômicos existentes na periferia, tendo seus direitos negados de modo mais intenso. Segundo o mapa da violência de 2015, em 2013 foram assassinadas 4 762 mulheres. Nesse ano foram assassinadas 66,7% mais mulheres negras do que brancas.

Diante os fatos apontados, é importante observar que existem inúmeros movimentos que possuem como objetivo mudar o atual cenário e estimular a conscientização da sociedade sobre essas violências. Durante 21 dias que ocorrem entre os meses de novembro e dezembro, é realizado em pelo menos 159 países o movimento “21 dias de ativismo pelo fim da violência contra as mulheres”. No Brasil, essa mobilização educativa, tem seu início no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, com o intuito de dar destaque as particularidades da mulher negra em relação à violência contra mulheres. Outras duas datas muito importantes acontecem durante esse período, sendo 1 de dezembro, Dia Mundial do Combate a AIDS e 6 de dezembro, Dia da Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as mulheres.

A mobilização dos “21 dias” tem seu fim definido em 10 de dezembro, mas essas questões precisam ser discutidas com maior frequência durante todo o ano. Todos os dias mulheres são agredidas a cada 2 minutos no Brasil, estão morrendo por não terem acesso aos seus direitos básicos, a desigualdade social continua atingindo grande parte da população e o racismo é um agravante de tudo isso. Não podemos mais esperar para falar e agir em favor da mudança. É preciso entender que esse é um problema de todos nós e as consequências dessas violências são prejudiciais para o desenvolvimento de nossa sociedade em sua totalidade.

 

Keila Ribeiro

Graduada em administração de empresas pela UNORP – Centro Universitário do Norte Paulista e estudante de Publicidade pelo Senac Catanduva. Atua profissionalmente como assistente de marketing, publicitária e designer gráfico, é integrante do Movimento Negro de Catanduva/SP e colaboradora do MNCP.