Janette Alvim é o meu nome…
Moro em Guarapari/ES, num espaço incrível, aonde desde minha mocidade vou construindo meu “castelo”. Plantando uma árvore frutífera aqui, outra ali, flores acolá, gramas e, já com 58 anos, está tudo perfeito. Sinto como foi trabalhoso e prazeroso essa tarefa.
Me descobri com AIDS em estado terminal no início da década de 80, quando não havia medicação, e tudo era muito assustador para médicos e pacientes que se amontoavam no único local de atendimento na capital Vitória, onde continuo em tratamento. Junto com o HIV, veio a Hepatite C, e essas comorbidades entraram em minha vida, da mesma forma que no sangue: Interno, profundo, confuso, aterrorizante…
Da Hepatite C me curei em 2017, já o HIV…
De tudo isso, aliado a minha experiência de HIPPIE desde os anos 70, quando fugi de casa para ser HIPPIE, a maternidade e as relações amorosas conturbadas por demais, resolvi escrever a obra: “Pássaros ainda cantam em minha janela”, onde relato minha jornada pela vida.
“Está amanhecendo… E os pássaros ainda cantam em minha janela!
Um vento frio teima em entrar pela fresta da janela e eu me espreguiço na cama, a imaginar como está a manhã lá fora. Sei exatamente o que está acontecendo, pelo barulho sutil que me chega aos ouvidos. As flores lindas se abrindo ao sol, os pássaros se banqueteando com as frutas maduras no pé, o meu cachorro, esperando sua ração, afoito.
Resolvo dormir um pouco mais, pois passei a madrugada cheirando uma rapa de cocaína e meu corpo está cansado, pois quando estou na ilusão do efeito da droga, por muito pensar, meu coração trabalha mais, bombardeando o sangue mais rápido. È inevitável meu corpo sofrer por isso, apesar de eu estar satisfeita mentalmente. È o preço que pago, por ainda querer entender o indecifrável”! Página 150
O indecifrável naquele momento é o indetectável de hoje. Não existia essa palavra e, nem se cogitava. Hoje consegui entender e vivenciar o indetectável. Com certeza muitas buscam estar indetectáveis e, eu digo sempre às mulheres que vivem com HIV/AIDS que o indetectável é fruto de disciplina nas medicações antiretrovirais e muita vontade de viver.
Minha alegria I=I, Indetectável igual Intransmissível
Janette Alvim – Escritora e Palestrante
Mãe de dois filhos
Representante Estadual do Movimento Nacional das Cidadãs positHIVas Espírito Santo