É notório que nas últimas décadas foram grandes os avanços no combate ao vírus da aids no Brasil, tanto na prevenção como no tratamento. No entanto, quando mais se avança, mais o debate desaparece da esfera pública. “Parou-se de falar de aids. Parece que basta tomar remédio que passou”, questiona a professora de Psicologia Maria Amélia Lobato, que há anos trabalha com o tema. “Por isso são importantes eventos como esse”.
Ela se refere à exposição Olhares Posithivos, que será lançada na próxima quarta-feira (27), às 16h, no Cine Metrópolis, junto à exibição do filme Sob o Mesmo Céu, idealizado por Maria Amélia e produzido de forma coletiva, e ainda debate com representantes dos movimentos de mulheres que vivem com HIV no Espírito Santo.
A exposição fotográfica é fruto de um projeto proposto pelo psicólogo Gabriel Waichert em parceria com o Movimento Nacional de Cidadãs Posithivas (MNCP), a Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV no Espírito Santo (RNP+ ES) e o coletivo NingueStudio.
Depois de realizarem oficinas básicas de fotografia, as próprias mulheres soropositivas tiraram as fotos com seus celulares ou escolheram como queriam ser retratadas pelas lentes fotográficas. No total, participam da exposição 13 mulheres, com cinco fotos cada uma, além de frases ou textos escritos por elas mesmas. “Na exposição a gente quis trabalhar com protagonismo, representação. O foco é na questão artísticas, que é imprescindível para dialogar com a sociedade. O mais importante é a manifestação delas, para o tema sair da invisibilidade”, diz Gabriel.
Segundo ele, a intenção da exposição é mostrar a realidade do que é ser mulher vivendo com HIV, na busca de desmistificar os preconceitos e ignorância de grande parte da sociedade sobre o tema. Também busca chamar atenção para certas especificidades dos casos femininos como, por exemplo, os efeitos colaterais dos remédios para tratamento, que amenizam os efeitos do HIV, mas também provocam alterações na gordura corporal e outros efeitos, que se sentem de forma diferente no corpo feminino.
“Graças às medicações as pessoas estão vivendo muito mais tempo, mas também surgem outros conflitos. Viver com eles sendo homem é uma coisa, sendo mulher, com as cobranças e pressões da sociedade que existem, é diferente”, diz o psicólogo.
É também para esse debate que o filme Sob o Mesmo Céu contribuiu. Seu roteiro foi construído coletivamente a partir de relatos de pessoas com HIV positivo, misturando encenação e ficção com histórias reais e registros documentais, por meio da história de duas mulheres de diferentes classes sociais que enfrentam os desafios cotidianos de viver com o vírus em aspectos como a família, relações sociais, preconceito, tratamento médico e ativismo.
Tanto no filme como na exposição fotográfica, o ativismo é parte central. Isso porque boa parte da construção parte de pessoas que conseguiram superar a dor de receber o diagnóstico e passaram a atuar politicamente para garantir conquistas sociais e melhores condições de vida.
A exposição Olhares Posithivos faz parte da jornada capixaba que marca o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, que se refere ao dia 1 de dezembro, instituído em 1988 pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Depois de apresentada no lançamento, a mostra fotográfica vai seguir para a Assembleia Legislativa, sendo lançada no dia 2 de dezembro, junto à realização de uma audiência pública sobre o tema e outras atividades. A exposição fica na Ales até dia 20 de dezembro. O acervo será entregue aos movimentos, para que se torne itinerante e possa ser levado a distintos locais e atividades pelo Estado ou outros lugares.
AGENDA CULTURAL
Lançamento da exposição fotográfica Olhares Posithivos, exibição do filme Sob o Mesmo Céu e debate
Quando: Quarta-feira (27), às 16h
Onde: Cine Metrópolis – Campus da Ufes em Goiabeiras – Vitória/ES.
Fonte: Século Diário
Fonte: Agência de notícias da AIDS