Neste domingo (7), países ao redor do mundo comemoram o Dia Mundial da Saúde. A data foi criada em 1950 e é uma homenagem ao dia da fundação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que ocorreu em 1948. Este ano, o tema escolhido pela OMS é “Cobertura Universal de Saúde”.

A OMS tem metas ambiciosas para 2019. Entre os objetivos está a ampliação do acesso e da cobertura de saúde para atender a 1 bilhão a mais de pessoas na comparação com números atuais. A instituição também quer garantir que 1 bilhão de indivíduos estejam protegidos de emergências de saúde. Por fim, a organização espera melhorar o bem-estar de 1 bilhão de moradores do planeta Terra. O conceito de saúde definido pela OMS é amplo e não se restringe apenas a ausência de enfermidades, sendo: “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente ausência de afeções e enfermidades”.

Para lembrar a data, a Agência de Notícias da Aids perguntou aos ativistas o que é ter saúde e viver com HIV. Alguns disseram que ter saúde e viver com HIV é estar vivo. Outros falaram que é lutar pela vida. Confira as respostas a seguir:

Silvia Almeida, consultora do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids: “Ter saúde e viver com HIV significa ter que enfrentar algumas doenças ainda maiores: a corrupção que rouba verbas, sumindo com o dinheiro que deveria ser investido nos serviços de saúde e na prevenção. Prevenção não só para o HIV, mas a tantas outras patologias que poderiam ser evitadas com exames e consultas mais eficientes… É ter que enfrentar a doença dos preconceitos, preconceitos esses que constantemente tirem o bem estar e até a vida. Viver com saúde e HIV é ver pessoas vivendo pela metade quando poderiam ter vida plena. Viver com saúde e HIV é um exercício diário de luta por direitos e cidadania! O que me move? A esperança de dias e políticas melhores.”

Credileuda Azevedo, Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “É quando a saúde está legal sem nenhuma infecção mesmo tendo o HIV. Não falo nem a questão do indetectável, mas fisicamente saudável! Quando se descobre com HIV, sem nenhuma doença oportunista e sua carga viral está baixa e você está bem para seguir e iniciar o tratamento, isso é saúde.”

Sandra Paiva, Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Durante muitos anos, a saúde foi entendida como estado de ausência de doença. Esta definição foi substituída por outro que engloba o bem-estar físico mental e social. O contingente de usuários do SUS, necessitam saber o que é, como se mede, como se promover está tal saúde para todos. Viver com HIV para mim é batalha em cima de batalha. Batalha na saúde fragilizada por conta dos 24 anos de sorologia reagente. Batalha pelo não desmonte do SUS. Batalha para se manter o ativismo político dentro do controle social e contra a banalização e a criminalização da aids.”

Rafael Bolacha, ator e ativista: “Ao conhecer meu diagnóstico HIV positivo, aos 25 anos, muita coisa mudou. Minha relação com saúde se transformou e saiu da teoria para a prática. Não apenas a saúde física, mas a mental e a espiritual passaram a fazer parte das minhas atitudes diárias. Viver com HIV me trouxe o sentido de mortalidade mais presente e com isso o entendimento mais completo de qualidade de vida.”

Alisson Barreto, do Grupo de Incentivo à Vida: “Ter saúde não é a ausência de alguma doença, ter saúde está associada diretamente à qualidade de vida da pessoa, uma alimentação balanceada, prática regular de exercícios e bem-estar emocional são fatores importantes para ter saúde. E ter saúde vivendo com HIV é viver com tudo isso e ainda ter que lidar com outras coisas como: o preconceito de algumas pessoas que por não terem informação, nos julgam e discriminam. É ter consciência que não estou doente, que sou somente portador de um vírus, que preciso tomar meus medicamentos de forma adequada, e assim continuar tendo uma boa saúde, não me sentir inferior aos outros por causa da minha sorologia, saber lutar pelos meus direitos, e isso significa não somente lutar por medicação, mas lutar por qualidade de vida em todos os seus aspectos, físicos e mentais.”

Salvador Correa, da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids: “Ter saúde e viver com HIV é lembrar que estamos vivos, temos projetos e a vida é o maior bem que temos. É lembrar que no mundo 15,2 milhões de pessoas com HIV ainda não tem acesso a tratamento. É sonhar com um mundo em que o acesso a saúde seja um valor universal. É recordar de Betinho, Herbert Daniel, Mara Moreira e tantos que partiram e deixaram luz com ideais de cidadania, mostrando o valor da vida. É afirmar que saúde não é ausência de doenças e que a epidemia de HIV/aids nos mostra que direitos humanos e saúde devem andar sempre juntos. Ter saúde e viver com HIV é acreditar na potência humana de empatia e acolhimento, e resgatar a lembrança de que devemos expandir os ensinamentos solidários da aids para todo o mundo. É ter orgulho de participar de um movimento diverso que com muito diálogo resgata o valor humano da diversidade em todos os aspectos. É lembrar sempre que a maior doença é social e que temos inúmeros desafios para garantir os direitos humanos de negras, negros, jovens, gays, bissexuais, lésbicas mulheres, homens, pessoas trans, pessoas em situação de rua, usuários de drogas, imigrantes, pessoas com deficiência. É perceber que a resposta à aids nos mostra que é possível construir solidariedade política e os recursos financeiros são fundamentais para fortalecer a sociedade civil. Por fim, é ter a coragem para acreditar no potencial humano de se reconstruir mesmo nos cenários mais turbulentos. Que possamos ter cada vez mais motivos para celebrar essa data!”

Silvia Aloia, Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “Considerando que saúde é o bem estar físico, mental e espiritual, manter essa tríade é um grande desafio, é matar um leão por dia para manter o que ainda sequer é suficiente. Para além de ter HIV, o que me deixa suscetível ao adoecimento, também sou mulher com necessidades e cuidados específicos e amplos. Os diversos retrocessos na área do financiamento, nas reformas trabalhistas e da previdenciária, juntamente com essa onda conservadora e preconceituosa que estamos vivenciando, interferem diretamente nas escolhas, na autonomia e no cuidado. Reafirmar e resistir tem se tornado palavras de ordem.

Toni Reis, presidente da Aliança Nacional LGBTI+: “Saúde é estar bem física e psicologicamente, é poder contar com serviço de saúde público e poder conviver bem com outras pessoas. Percebo que tivemos uma evolução dos conceitos grupo de risco para comportamento de risco, para então falarmos em população alvo. E, hoje, a prevenção combinada também é uma forma de evolução, para que as pessoas consigam ter adesão ao tratamento e ficar bem, ser feliz, com saúde.”

Heliana Moura, ativista vivendo com HIV: “Ter saúde de acordo com a OMS é o bem estar físico, mental e espiritual. Pois bem, é possível estar bem vivendo dom HIV, fisicamente com adesão ao antirretrovirais e adesão ao tratamento, e ainda ter uma boa alimentação, praticar atividades físicas, sexo seguro, noites bem dormidas e o lazer que interfere também na saúde mental onde ainda é possível estar bem através de terapias seja individual ou coletivas e espiritualmente buscando se melhorar moralmente e se conectar com o Ser Maior em que acredita. Essa busca de bem-estar envolve a todos que queiram estar saudáveis. Ter saúde acima de tudo é procurar viver com qualidade, ter amor próprio e ser otimista diante das adversidades. Sorrir também ajuda a manter seu corpo mais leve. Não somos o HIV, somos o que escolhemos e eu escolho ter muita saúde.”

Carlos Henrique de Oliveira, da Rede de Jovens SP+: “Ter saúde é ter sobretudo autonomia do próprio corpo e ter uma noção sobre o direito à vida. Saúde não é somente a ausência de doença, é ter seu corpo como território, e poder ocupar esse território para poder navegar pelo mundo. Saúde é integral, é mental, é ter seus direitos respeitados, sua alteridade e subjetividade respeitadas. Nesses tempos de desmonte e de mercantilização da saúde, é importante lembrar que ela não é mercadoria, é um bem imensurável. Não há como negociar em balcão, é essencial para o desenvolvimento social. Saúde para mim é o tudo.”

Vando Oliveira, Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+ do Ceará): “Ter saúde e viver com HIV no Brasil hoje é quase impossível, não o “viver com HIV” mais ter saúde. Num país em que a prioridade é a corrupção, lavagem de dinheiro e de direitos, a saúde inclusive fica em um lugar bem distante do que é de direito das pessoas que vivem com HIV. Não há mais politica de aids que garanta assistência de quem vive com HIV, motivo pelo qual muitos estão morrendo de aids, e como ter saúde vivendo com HIV, se os gestores deixaram de ver a aids como um problema sério de governo, de saúde pública, e acham que basta ingerir remédio que esta tudo resolvido? Se o próprio Ministério da Saúde sinaliza juntar vários agravos à aids quando poderia ver todas as patologias uma a uma com suas garantias e não um bloco da ‘junta tudo e vamos ver o que vai dar’. Quando os serviços de saúde – SAEs estão sendo desmontados Brasil afora, sem qualquer responsabilidade de muitos gestores. A terceirização, o não reconhecimento de vínculo dos profissionais, a própria gestão contribui para que as pessoas com HIV não tenha tratamento, seguido de adoecimento, internamento e óbito. Como se fossemos um bando de forasteiros de direito à saúde e à vida.”

Jacqueline Côrtes, do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas: “É bem-estar físico mental, social e espiritual. Isso para mim é ter HIV e viver com saúde. Posso viver com HIV e ter um bem-estar físico, a partir do momento que meu tratamento esteja em primeiro lugar e funcione. Ter acesso à antirretrovirais e a todos medicamentos necessários para que esse bem-estar se mantenha. Preciso ter disponibilização de medicamentos, tratamentos, exames laboratoriais e de alta e média complexidade. Então, a saúde pública precisa funcional. O segundo ponto, é a saúde mental, preciso observar os efeitos colaterais desses remédios no meu sistema neurológico, ou a ponto de eu desenvolver uma depressão. Preciso ter acesso à psicólogos, psiquiatras e terapias complementares. Por fim, há a saúde social. Preciso morar, comer, para ter saúde física. Para isso, é preciso ter acesso à geração de renda, ao trabalho, a uma aposentadoria. Precisa ter educação, preparo, capacitação. Isso é o básico.”

Fonte: Agência de Notícias da Aids