Primavera de 2018, São Paulo.

540 mil mulheres vivendo e morrendo no contexto da Aids na América Latina nestes 35 anos. 39 mil casos de infecção por ano. 10 novas infecções por hora. Epidemia marcada pela precária atenção  dos governos, preconceito, invisibilidades, pobreza,  violências,  opressões,  injustiças, intolerâncias, etc, etc.  Ditadura da indiferença!

Sobreviver requer deixar o luto, seja do filho, do esposo, pais, irmãos, amigos, e lutar pela própria vida e das demais. Valentes cidadãs!

Na cidade ou no campo, as vozes das mujeres não calam. Gemidos, sussurros, brados, silêncios barulhentos. Organizadas em grupos ou sozinhas, em todo canto, e em toda parte entoam o canto: Viver é um direito! E como disse o poeta: Viver e não ter a vergonha de ser feliz.

Muitas não resistiram a essa marcha tão longa e árdua – Luz Maria, Patricias, Maras, Elviras, Cristinas, Luzias, Isabel, Flor Maria, e tantas e tantas, ativistas ou anônimas. Nossa homenagem a vocês, Hermosas Hermanas!  Até breve! Seguimos lutando, por nos que ainda estamos na peregrinação na terra dos viventes e por aquelas que nem sabem que tem voz.

Há muito que caminhar, muito a conquistar, disso sabemos. Contudo, nesses anos todos as vozes do Movimento Latino-americano e do Caribe de Mulheres Positivas (MLCM+) e do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas contribuíram para: impactar o rumo da história presente e futura, abrir espaços nas instâncias formadoras de opinião e de poder para acabar com as violências,  a pobreza e a discriminação, acessar os medicamentos, tratamentos. E isso fez com que muitas de nos sobrevivesse a epidemia de aids.

Considerando que a ética, estética e a politica em nossa região há muito se corrompeu, e aqui governa-se para o interesses de minorias, gerando o abandono e consequente genocídio da maioria. Temos muito trabalho ainda pela frente.

Em meio a tantas adversidades, miramos uma vida digna para todas nós, e para a sociedade.

Queremos paz, terra, água, casa e pão para toda gente. Queremos criar nossos niños, nietos em um país onde as mulheres, jovens, brancos, índios, negros, asiáticos, crianças e homens sejam livres para sonhar e realizar. E onde o exercício dessa cidadania gere uma sociedade justa, equânime e feliz em prol de todos. As fronteiras alargadas não oprimem. Contrário disso, elas geram espaços de criação e vida, retomando sonhos perdidos nos labirintos do caos das décadas passadas e desse presente. Nada fácil. Contudo, vale lembrar o convite da linda canção composta em momento assim, como os que vivemos: “ Vem! Vamos! Quem sabe faz a hora não espera acontecer”.

 

*Movimento Latino-americano e do Caribe de Mulheres Positivas e Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas. 

**  Nair Brito é ativista e integrante do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas

Fonte: Agência de notícias da AIDS