Teresinha Vilela

De repente, ouvir do médico: você está com Aids, foi estarrecedor. Medo, dor, vergonha, esperar a morte nos idos de 94. Passado o primeiro impacto e com orientação, surgiu uma possibilidade de ter vontade de viver, foi a convivência com o grupo de mulheres do GRUPO PELA VIDDA/RJ. Estudei, me informei e comecei a participar como voluntária. Ótima recuperação. Festejei a vida aos 60 anos. Aprendi a conviver com o HIV participando ativamente na luta contra a AIDS.

Alguns anos de calmaria e agora a resistência aos anti-retrovirais. Fiquei debilitada e depois de várias trocas sob os auspícios do famoso coquetel, uma surpresa: após uma crise com sintomas de gripe, muito debilitada e morando sozinha, ao melhorar me olhei no espelho, um susto! O que é isso? “Eu pareço uma caveira!”, disse para mim. Marquei assustada a consulta médica e ouvi pela primeira vez a palavra LIPODISTROFIA e o seu terrível significado. Eram poucos os recursos na época, preenchimento nas faces, caríssimo, e o resto do corpo? Aeróbica e musculação, caminhadas, etc. Como com 64 anos? Fui para casa chorar e refletir.

Depois de um tempo isolada só falando com parentes e amigos íntimos, resolvi enfrentar outra vez a vida, fui ao GRUPO e recebi um convite para representar o mesmo numa palestra sobre Lipodistrofia com Dr. Márcio Serra e Anti-retrovirais com Dra. Márcia Rachide. Aceitei, compareci e me identifiquei com todas as fotos. Saí assustada e esperançosa. Consulta com o Dr. Serra, negociação, preenchimento, quase um milagre, olhar no espelho e me sentir outra vez mulher (nessa época não havia a portaria do MS que autoriza a fazer pelo SUS). Não há palavras para descrever a emoção, mas era só o começo.

Uma Giba na nuca que à época ainda não tinha solução, a lipoaspiração não era aconselhável. Ai eu me escondia atrás das roupas, mudei meu estilo de vida e de vestir. Acompanhando as pesquisas, consultando médicos, etc. Após 3 anos, finalmente uma boa notícia, já havia técnica para fazer a lipo sem riscos para os soropositivos e, melhor ainda, podia preencher outra parte do corpo (no meu caso as nádegas) pelo plano de saúde (UNIMED, mas batalhei para consegui sem gastos).

Vencidas algumas resistências fiz a cirurgia e paralelamente, musculação e caminhada com ajuda de amigos fisioterapeutas, pois não dava para pagar academia e eu tinha vergonha do meu corpo. Continuei na luta, porque para viver teria que estar bem. Meus seios sumiram e eu me sentia mutilada, a lipodistrofia continuou me castigando, cresceu a barriga, os braços engrossaram e as pernas afinaram. Mais 2 anos e nova lipoaspiração, recuperei os seios, quadris e outras partes. Em resumo: hoje tenho o corpo de uma mulher de 72 sem deformação.

Recebi críticas e aprovação, aos que criticaram, respondo: a minha luta foi muito solitária, muitas mulheres com HIV se escondem, não vivem. Mulheres jovens, bonitas que deixam de aproveitar o que as novas descobertas podem ajudar a viver melhor. Faço palestras, mostro as minhas fotos, incentivo e ajudo as cidadãs a se cuidarem. Então elas podem se mostrarem, terem visibilidade, lutar contra o estigma e o preconceito, sendo mais felizes. Temos que, unidas, lutarmos por mais conquistas e pesquisas específicas para as mulheres soropositivas.

Teresinha Vilela é a Cidadã Posithiva de mais idade, mora em Maceió /AL, onde fundou o Núcleo do MNCP do Estado de Alagoas. É formada em Ciências Sociais, pela UFRJ, professora de Filosofia e História e pedagoga: Orientação Educacional – USU (Universidade Santa Úrsula – RJ)

Fonte: Agência de notícias da AIDS