Um abraço coletivo, seguido de falas emocionadas, fechou o encontro que o MNCP (Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas) realizou na quinta e na sexta-feira (31 de março e 1º de abril) num hotel no centro de São Paulo. Nos dois dias, 30 mulheres, 20 vindas de outras cidades do estado e 10 da capital e Grande São Paulo, tiveram tempo de se conhecer, trocar experiências e aprender umas com as outras. Algumas estiveram pela primeira vez numa reunião do movimento, outras voltaram depois de um tempo afastadas e outras frequentam os encontros desde o início do  MNCP, fundado em 2004.

O encontro teve patrocínio do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo e apoio do Foaesp (Fórum de Ongs/Aids do Estado de São Paulo). É o primeiro de uma série de três que as cidadãs farão ao longo do ano.  O próximo será no fim de junho e o último, em setembro.

Desta vez, o tema da reunião foi “Controle Social, Reflexão e Participação”. Maria Elisa da Silva, representante do MNCP no estado de São Paulo, adiantou o assunto dos próximos. “No segundo encontro, falaremos mais de direitos humanos e no terceiro, de direitos previdenciários”.

“Esse primeiro encontro foi muito produtivo porque acolhemos muitas mulheres que estão chegando ao movimento e grande parte delas ouviram pela primeira vez os temas aqui abordados”, contou a cidadã Renata Souza, de Presidente Prudente. Coube a ela, que está no movimento há 17 anos, falar sobre a importância da participação das mulheres nos espaços de controle social. “Também falei com elas sobre como funciona a política no Brasil, sobre as estruturas sociais.”

“Cada uma dessas mulheres sai do encontro com o compromisso de levar as informações aqui recebidas para suas regiões. A ideia é que formem núcleos do MNCP em  seus municípios”, disse Maria Elisa.

É o que garante que vai fazer Sandra Maria Paiva, 48 anos, em sua cidade, Fernandópolis,  para onde está voltando depois de cinco anos vivendo em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

“Eu vim trabalhar no Programa de DST/Aids e Hepatites Virais de Taboão, porque na minha cidade eu fiquei estigmatizada. Era conhecida como a Sandra da ONG/aids.”

Assistente social, Sandra conta que foi ela quem ajudou a fundar a primeira ONG de acolhimento a  pessoas vivendo com HIV em Fernandópolis, o Gadip (Grupo de Apoio aos Portadores de Doenças Infecto-parasitárias). “Fazia três anos que eu havia descoberto o diagnóstico positivo. Estava muito mal”, ela disse. “Foi quando meu filho mais velho morreu assassinado, aos 16 anos, e decidi reagir para sobreviver.”

Segundo Sandra, foi lutando que ela redescobriu a vida. “No começo, queria morrer. Eu estava amamentando meu caçula quando fui a um hospital doar sangue e soube do HIV. Felizmente não passei o vírus para ele, que hoje está com 21 anos.”

Atualmente, ela atravessa mais uma fase difícil. Terá de fazer duas cirurgias: uma bariátrica e uma no joelho. Por conta disso, está afastada do trabalho. “Ficar sem fazer nada estava me deixando muito mal. Esse encontro me mostrou que posso ajudar outras mulheres montando um núcleo do MNCP nessa minha volta a Fernandópolis.”

Já Sandra Conceição dos Santos encontrou na reunião possibilidades de parcerias para a ONG que preside, a Fundação Poder Jovem, especialmente agora que a entidade prepara o lançamento da Rede Nacional de Mães Vivendo e Convivendo Positivamente. Ela aproveitou e convidou todas as cidadãs para o lançamento da rede no dia 9 de abril, na Unibes (Rua Oscar Freire, 2.500), durante o evento Virada da Saúde.

“É o meu primeiro contato com o movimento e saio daqui me considerando uma cidadã”, disse Sandra Conceição.

 Foi o segundo encontro com as mulheres do MNCP para a  jovem Flor, de 32 anos, do litoral. A estreia foi no ano passado, também num hotel, no centro da cidade. “Eu estava em dúvida sobre o queria para mim e, em 2015,  participei mais como ouvinte”, revelou Flor.  Um ano depois, ela ainda prefere ser discreta quanto à sorologia, mas tem certeza de que ganhou coragem dentro do movimento e  que esse é apenas o começo da jornada que vai empreender. “Tenho ocupado cada vez mais espaços.”

Rosa, 50 anos,  usuária do Projeto Bem-Me-Quer e moradora de Francisco Morato, fez sua estreia no MNCP e disse que os dois dias de reunião a ajudaram a  recuperar sua autoestima. “Estava muito abatida, a chuva derrubou recentemente uma parede da minha casa, terminei um relacionamento, enfim, me sentia triste e aqui eu me animei.”

Para Tereza Rodrigues, 68 anos, o encontro foi, na verdade, um reencontro com a luta contra o HIV. “Eu tive umas desilusões no ativismo”, contou. “Então, me afastei de tudo. Depois, fiz um tratamento de câncer. Agora estou melhor, passei a frequentar a ONG Bem-Me-Quer e foi lá que soube desse encontro das cidadãs. Adorei. É a minha praia.”

Dica de entrevista

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Fonte: Agência de Notícias da AIDS