Já estamos vivendo o novo, como sempre vivemos, cada dia é um ciclo novo, se o momento é adverso e exige reinvenções, mude, adapte…, mas viva!!!

 Um dos maiores inimigos do Brasil no combate à COVID-19 é a desigualdade social. Infelizmente, as pessoas vitimadas pelo novo coronavírus têm cor, tem gênero e principalmente classe social, ou seja, os povos marginalizados e excluídos na sociedade é quem está sofrendo estruturalmente com a Pandemia.

Desde o início de fevereiro, quando entendemos que o vírus chegaria ao Brasil, e espalharia sua capacidade de transmissibilidade, ocasionando em curto espaço de tempo seu alto grau de mortalidade, se apontou a ideia de que aqui encontraria um terreno absolutamente fértil, dadas às condições já estruturadas da sociedade brasileira, de um pauperismo absurdo, que coincidentemente voltou a atingir níveis elevados já no primeiro ano do Governo Bolsonaro. Devo lembrar que, inicialmente confirmada entre pessoas de classe média/alta que viajaram para o exterior, rapidamente a infecção pelo coronavírus se espalhou entre os mais pobres, impulsionada por desigualdades vergonhosas e históricas.

A sociedade brasileira é pouco democrática, quando se trata do ponto de vista econômico, do conflito entre as classes. Ocorre uma grande necessidade de existir uma elite dominadora, manobrista, contra uma pobreza subalterna, conformista e obediente. Ambos os lados, são impulsionados pelo capitalismo estrutural, onde a desigualdade é observada na miséria de uns e riqueza de outros.

 E o Governo Brasileiro? Este se apresenta como coadjuvante, em meio ao caos, fingindo não ser responsável pelas mortes, mas deixa seu povo morrer, participa do genocídio negligenciando respostas, lançando políticas insuficientes do ponto de vista médico e tecnológico, praticando seu discurso negacionista que simplesmente ignora que vivemos sim, em um país POBRE, RACISTA E MACHISTA. Finge não ver os números e os recortes da população que são mais atingidas pela Pandemia. A COVID -19, no Brasil, demonstra que chegou para fazer uma higienização social.

 Outra questão que gostaria de abordar, está diretamente relacionada a experiência do HIV/AIDS. Tem a ver com contextos historicamente construídos, e ainda não desmistificados ou superados, que nada colaboraram para o enfretamento da epidemia, relacionando a doença, com a culpabilização dos “corpos adoecidos”, ou seja, a vítima.

Segundo Richard Parker…, e eu concordo plenamente, a resposta à COVID-19 não pode reeditar práticas danosas aos direitos humanos, operando a partir da culpabilização e do estigma.

Na minha opinião a um efeito emocional perverso na disseminação de informações que responsabiliza a população. É muito difícil você fazer o isolamento social, se o próprio Governo Federal tira de si a responsabilidade de falar para pessoas ficarem em casa, dizendo o contrário. E quando as pessoas contraem a doença, a culpa passa a ser das pessoas, pois não tomaram as devidas precauções.

Culpabilizar a vítima alegando falta de consciência da população, demonstra uma forma silenciosa de não apropriação das responsabilidades, direitos e deveres, tanto do âmbito privado como do público.  

Ao culpar a vítima, tanto o governo, como cada cidadão, se exime de tomar uma atitude, consertar problemas graves e históricos, como por exemplo, saneamento básico, habitação adequada, pobreza e desigualdade nos serviços em saúde. Culpar a vítima, porque ela é doente e não dar assistência médica necessária é desrespeitar o direito universal à saúde. Além disso, o próprio Estado pode violar direitos da população por omissão ou por falta de vontade política para garantir tais direitos.    

A COVID -19, muito similar a história do HIV, se de um lado vem apresentando como aspectos negativos, vários sinais de vulnerabilidades, amplamente vinculados às questões de exclusão social e comportamentos discriminatórios e higienistas, por outro lado, de forma muito salutar, observo uma grande mobilização e reponsabilidade solidária da sociedade civil, se articulando como resposta na perspectiva de preservar os direitos humanos como prioridade absoluta na promoção da dignidade das pessoas de uma forma geral.   

Por aqui, enquanto movimento de Luta Contra a AIDS, vamos escrevendo capítulos da história que se pautam no bem por um mundo melhor, na justiça social, e na solidariedade. O primeiro passo, dado pelo Fórum das Ongs Aids/SP, foi a criação de um GT – grupo de trabalho – especifico para discutir questões relacionadas a Aids e a Pobreza. Esse GT, ganha mais notoriedade a partir das leituras e vivências cotidianas das ONGS AIDS, que se colocam na linha de frente como resposta as vulnerabilidades sociais das pessoas que vivem com HIV/AIDS, agravadas pela pandemia do COVID 19. Para nós, derrotar essa crise é encarar de frente as desigualdades e percebê-las como realidade.

Carla Diana

Assistente Social e Especialista em Trabalho Social com Famílias.

Coordenadora Associação Prudentina de Prevenção a AIDS de Presidente Prudente/SP.

Presidente do CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Presidente Prudente.

Vice Presidente do FOAESP – Fórum das Ongs Aids do Estado de SP.

Conselheira Estadual de Saúde.

Ativista do Movimento Nacional de Luta Contra à Aids.