A campanha “Julho Amarelo” foi instituída no Brasil pela Lei nº 13.802/2019 e tem por finalidade reforçar as ações de vigilância, prevenção e controle das hepatites virais.

A hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser causada por vírus ou pelo uso de alguns medicamentos, álcool e outras drogas, assim como por doenças autoimunes, metabólicas ou genéticas. 

Conheça um pouco da história de Maria Elisa, 66 anos, com HIV/AIDS desde 1990 e, diagnosticada com Hepatite C em 1996. Uma vida de superação e força.

Após ser internada para tratar a dependência química iniciei o uso de antirretrovirais, e dois meses após iniciar o tratamento apresentei Hepatite medicamentosa, por intolerância de um dos medicamentos que faziam parte do chamado “coquetel”. Precisei ser internada, pois sentia muita dor, não conseguia me alimentar, minha pele e olhos ficaram totalmente amarelados.

 

Diante desse quadro fui testada para Hepatite B e C, sendo diagnosticada com Hepatite C. Esse foi o primeiro episódio de crise. Fui tratada dessa Hepatite medicamentosa e encaminhada para acompanhamento com hepatologista.

 Após avaliação do hepatologista fui submetida a uma biopsia do fígado e a vários exames laboratoriais onde foi constatado cirrose. Fui orientada pelo hepatologista  a aguardar, pois o tratamento para Hepatite C exigia que a pessoa tivesse com boa imunidade. As drogas eram muito agressivas com muitos efeitos colaterais.

Como eu não estava bem aguardei quase dois anos e iniciei o primeiro tratamento com Interferon e Ribavirina. Tratei por um ano com três doses semanais de automedicação, com injeção na barriga. No dia em que tomava a injeção me sentia tão mal que não conseguia me mexer na cama.  Perdi quase 20 quilos, meu cabelo ficou ralo e caiu, minha pele escureceu ficando cor de chumbo e quase no final do tratamento tive depressão suicida e planejei como seria minha morte. Os médicos queriam interromper o tratamento, mas não aceitei, pois se já havia chegado até ali, iria até o fim.  Pensei que não conseguiria sobreviver a esse tratamento.

Após o término desse um ano fiz teste de Carga Viral e não havia me curado, fui informada que ficaria descansando do tratamento por dois anos e após esse período seria novamente tratada.

O segundo tratamento foi realizado com outro tipo de Interferon Peguilado + Ribavirina, por mais um ano com uma dose semanal feita no hospital por profissional de enfermagem. Novamente após o término de um ano fui testada positiva, ainda, para o vírus C.

Só a dois anos atrás fui submetida ao último tratamento  com Sofusbovir,  mais  uma outra droga com ingestão diária por 12 semanas. Ao final desse tempo finalmente fui testada e estava negativa para a Hepatite C. Desde então venho fazendo exames a cada 6 meses e até o final do ano devo receber alta da Hepatologia.

Hoje vivo bem as funções do meu fígado foram se normalizando, nunca mais tive problemas com baixa de plaquetas, que foi um dos problemas que muito me afligiu por anos, e me sinto muito bem.

Conheça um pouco mais sobre a doença

Nem sempre a doença apresenta sintomas, mas quando aparecem, estes se manifestam na forma de cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

No caso específico das hepatites virais, que são o objeto da campanha Julho Amarelo, estas são inflamações causadas por vírus classificados pelas letras do alfabeto em A, B, C, D (Delta) e E.

– Hepatite A: tem o maior número de casos, está diretamente relacionada às condições de saneamento básico e de higiene. É uma infecção leve e se cura sozinha. Existe vacina.

– Hepatite B: é o segundo tipo com maior incidência; atinge maior proporção de transmissão por via sexual e contato sanguíneo. A melhor forma de prevenção para a hepatite B é a vacina, associada ao uso do preservativo.

– Hepatite C: tem como principal forma de transmissão o contato com sangue. É considerada a maior epidemia da humanidade hoje, cinco vezes superior à AIDS/HIV. A hepatite C é a principal causa de transplantes de fígado.  A doença pode causar cirrose, câncer de fígado e morte. Não tem vacina.

– Hepatite D: causada pelo vírus da hepatite D (VHD) ocorre apenas em pacientes infectados pelo vírus da hepatite B. A vacinação contra a hepatite B também protege de uma infecção com a hepatite D.

– Hepatite E: causada pelo vírus da hepatite E (VHE) e transmitida por via digestiva (transmissão fecal-oral), provocando grandes epidemias em certas regiões. A hepatite E não se torna crônica, porém, mulheres grávidas que forem infectadas podem apresentar formas mais graves da doença.

Formas de contágio:

As hepatites virais podem ser transmitidas pelo contágio fecal-oral, especialmente em locais com condições precárias de saneamento básico e água, de higiene pessoal e dos alimentos; pela relação sexual desprotegida; pelo contato com sangue contaminado, através do compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos perfuro-cortantes; da mãe para o filho durante a gravidez (transmissão vertical), e por meio de transfusão de sangue ou hemoderivados.

O contágio via transfusão de sangue já foi muito comum no passado, mas, atualmente é considerado raro, tendo em vista o maior controle e a melhoria das tecnologias de triagem de doadores, além da utilização de sistemas de controle de qualidade mais eficientes.

No Brasil, as hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D (mais comum na região Norte do país) e o vírus da hepatite E, que é menos frequente no Brasil.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento para todos os tipos de hepatite, independentemente do grau de lesão do fígado.

A falta do conhecimento da existência da doença é o grande desafio, por isso, a recomendação é que todas as pessoas com mais de 45 anos de idade façam o teste, gratuitamente, em qualquer posto de saúde e, em caso de resultado positivo, façam o tratamento que está disponível na rede pública de saúde.

Prevenção da hepatite A:

– a vacina contra a hepatite A é altamente eficaz e segura e é a principal medida de prevenção;
– lavar as mãos com frequência, especialmente após o uso do sanitário, trocar fraldas e antes do preparo de alimentos;
– utilizar água tratada, clorada ou fervida, para lavar os alimentos que são consumidos crus, deixando-os de molho por 30 minutos;
– cozinhar bem os alimentos antes de consumi-los, principalmente mariscos, frutos do mar e peixes;
– lavar adequadamente pratos, copos, talheres e mamadeiras;
– usar instalações sanitárias;
– no caso de creches, pré-escolas, lanchonetes, restaurantes e instituições fechadas, adotar medidas rigorosas de higiene, tais como a desinfecção de objetos, bancadas e chão, utilizando hipoclorito de sódio a 2,5% ou água sanitária;
– não tomar banho ou brincar perto de valões, riachos, chafarizes, enchentes ou próximo de onde haja esgoto;
– evitar a construção de fossas próximas a poços e nascentes de rios;
– usar preservativos e higienizar as mãos, genitália, períneo e região anal, antes e após as relações sexuais.

Prevenção da hepatite B:

a vacina é a principal medida de prevenção contra a hepatite B, sendo extremamente eficaz e segura; usar preservativo em todas as relações sexuais; não compartilhar objetos de uso pessoal, tais como lâminas de barbear e depilar, escovas de dente, material de manicure e pedicure, equipamentos para uso de drogas, confecção de tatuagem e colocação de piercings.  A testagem das mulheres grávidas ou com intenção de engravidar também é fundamental para prevenir a transmissão de mãe para o bebê. A profilaxia para a criança após o nascimento reduz drasticamente o risco de transmissão vertical.

Prevenção da hepatite C:

Não existe vacina contra a hepatite C. Para evitar a infecção é importante:

não compartilhar com outras pessoas qualquer objeto que possa ter entrado em contato com sangue (seringas, agulhas, alicates, escova de dente, etc); usar preservativo nas relações sexuais; não compartilhar quaisquer objetos utilizados para o uso de drogas; toda mulher grávida precisa fazer no pré-natal os exames para detectar as hepatites B e C, HIV e sífilis. Em caso de resultado positivo, é necessário seguir todas as recomendações médicas. O tratamento da hepatite C não está indicado para gestantes, mas após o parto a mulher deverá ser tratada.

Prevenção da hepatite D:

A hepatite D ocorre em pacientes infectados com o tipo B, portanto, a vacina contra a hepatite B, protege contra o tipo D, também.

Prevenção da hepatite E:

A melhor forma de evitar a doença é melhorando as condições de saneamento básico e de higiene, tais como as medidas para prevenir a hepatite do tipo A. Minha infecção pelo vírus HIV se deu por compartilhamento de materiais para uso de drogas injetáveis e sexo sem proteção.